Folha de S.Paulo

Sabia que o trânsito de SP melhorou?

- LEÃO SERVA COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Leão Serva; quarta: Francisco Daudt; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Oscar Vilhena Vieira; domingo: Antonio Prata

O TRÂNSITO em São Paulo melhorou nos últimos anos apesar do aumento da frota. Estudo divulgado na semana passada pela CET mostra que a lentidão caiu 12,7% em 2016 em relação a 2015. No mesmo período, o número de veículos registrado­s na capital aumentou 2,6%.

O resultado mostra que é possível diminuir o número de carros nas ruas mesmo com o cresciment­o da frota, que é tendência global.

A melhora na fluidez mantém tendência de queda que já se manifestar­a no ano anterior (quando a redução tinha sido de 11%). O estudo compara dados dos dois últimos anos da gestão de Fernando Haddad (2013-2016).

Há várias hipóteses para explicar o aumento da velocidade média na capital. O consultor de trânsito Sérgio Ejzenberg, ouvido pela imprensa, aponta a crise econômica como principal responsáve­l: a queda na atividade reduz a necessidad­e de ir e vir de pessoas e mercadoria­s. Como estamos sob efeito da mais profunda recessão, é natural que ela seja a primeira “suspeita”.

Mas a economia não explica tudo. Os efeitos da contração se tornaram visíveis em 2015 (em 2014, Dilma Rousseff convenceu o eleitorado de que não havia crise) e a melhora do trânsito paulistano já vinha de antes: entre 2014 e 2013, a lentidão oscilou +2%, em quase estabilida­de.

Não é possível afastar a contribuiç­ão das medidas de gestão da mobilidade, tais como as restrições ao uso do carro com a criação das faixas de ônibus e ciclovias; a redução dos limites de velocidade para 50 km/h, que tende a aumentar a velocidade média; e o incentivo ao uso de transporte público e mobilidade ativa (como a bicicleta ou a caminhada).

Por fim, desde 2014 ocorreu a revolução tecnológic­a dos aplicativo­s de mobilidade. De um lado, o Waze e o Google indicam caminhos para motoristas fugirem dos gargalos; de outro, apps como Uber, 99 e Cabify cresceram muito no período promovendo o compartilh­amento de veículos. Entre os que adotam esta novidade, há um percentual de pessoas que passam a deixar o carro particular em casa.

Outro dado da pesquisa apontou uma estabilida­de no desrespeit­o ao rodízio de veículos: 10% pela manhã e 16% no final do dia. A diferença entre os dois períodos, já presente nos anos anteriores, revela que muitas das pessoas que saem de casa após o rodízio matinal esquecem ou tentam burlar a restrição no período da tarde.

Esse cresciment­o do desrespeit­o no fim do dia é um argumento usado por quem defende que a restrição deveria durar das 7h às 20h e não apenas três horas de manhã e três à tarde.

As informaçõe­s da CET relativas aos primeiros meses da nova administra­ção de João Doria (PSDB) não podem ser comparadas ao estudo divulgado, que usa estatístic­as do ano inteiro. Os dados parciais divulgados aqui e ali são contraditó­rios. Há tanto sinais de continuida­de da tendência de melhora na cidade como um todo quanto outros que apontam o cresciment­o dos congestion­amentos nas marginais desde o início do ano, quando subiram os limites de velocidade.

Para entender o trânsito da cidade, além dos dados completos de 2017, em 2018 teremos os resultados da pesquisa Origem e Destino, liderada pelo Metrô, que vai medir pela primeira vez o conjunto das muitas novidades dos últimos anos. Então teremos um retrato precioso do que aconteceu e um mapa para guiar o futuro da mobilidade na Grande São Paulo.

Estudos da CET mostram que lentidão caiu em 2015 e 2016; desafio de Doria será manter a tendência

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