Folha de S.Paulo

Rita Lee compara obra a caixinha de bombom

Escrita em três meses, coletânea ‘Dropz’ reúne 61 contos, que vão de meditações a historieta­s de mundos paralelos

- MARCO AURÉLIO CANÔNICO

Cantora aproveita o livro para exercitar sua porção desenhista, criando também pequenas ilustraçõe­s

A cantora está morta (ou em pausa, vá lá), longa vida à escritora. Quatro anos depois de abandonar os palcos e sua extensa e bem-sucedida carreira musical, Rita Lee se reinventou como autora e lança agora seu terceiro livro desde 2013, “Dropz”.

Coletânea de 61 contos, ele surge menos de um ano após a publicação de “Rita Lee, Uma Autobiogra­fia” (Globo Livros, 2016), que já vendeu 300 mil exemplares e se transformo­u num “sucesso totalmente inesperado”, segundo a autora.

“Assim que terminei a bio, bateu um vazio tipo pós-parto, voltei ao meu iPad e os contos foram brotando. Escrevi o ‘Dropz’ em três meses e sem pressão alguma”, diz Rita, em entrevista por e-mail.

Tal qual uma Forrest Gump tupiniquim, ela define a nova obra como “uma caixa de bombom: tem meditações, historieta­s de mundos paralelos e até flertes com La Fontaine”. Com seu humor caracterís­tico, diz que gostaria de ver o livro na seção “infantojuv­enil” das livrarias.

Os 61 textos do livro parecem mais destinados a um público adulto, no entanto. Variando em estilo e tamanho (a maioria com até duas páginas), têm em comum o tom debochado, típico da cantora. Sua porção crítica e iconoclast­a também se faz presente.

Já desde os contos iniciais —“Baião de Dois”, sobre um casal bizarro, e “Hã?”, sobre uma menina-planta— fica claro o apreço da escritora pelas narrativas fantástica­s. “O surreal sempre me encanta, é um brilho bem-vindo em nossas vidinhas bestas”, diz.

Não por acaso, lista o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) como um de seus autores favoritos, ao lado do americano Rex Stout (1886-1975).

Alguns textos são mais reflexivos, próximos das crônicas, como “Eis-Me”, cuja frase de abertura poderia servir de epígrafe para o livro: “Eisme aqui viva, mera mortal, filosofand­o sobre a vida, sobre Deus, sobre a crise mundial.”

Ainda que, em diversos trechos, Rita pareça estar falando de si mesma e de pessoas que conheceu, ela afirma que “diferentem­ente da bio, ‘Dropz’ é todo ficção”.

Talvez o seja, mas parte da fantasia foi calcada na realidade: há histórias que tratam das mortes de Elvis Presley, James Dean e JFK (“Adoro uma teoria de conspiraçã­o, vivo fuçando sites sobre assuntos que fazem parte das dúvidas do coletivo”) e outras na Saraiva, do shopping Pátio Paulista para a sessão de autógrafos de “Dropz”, a partir das 17h. Porém, o leitor terá de pegar uma senha (limite de 300), que será distribuíd­a entre 9h e 10h do mesmo dia na porta do shopping (ou dentro da livraria após as 10h). A autora autografar­á no máximo dois exemplares por senha. que citam personagen­s reais.

Há também um conto que protesta contra a política e o jeitinho brasileiro­s, criticando tanto as “viúvas do Chê” quanto o reino “dazelite coxinha”.

Ela compara o processo de criação dos textos ao das letras de música: não segue uma rotina nem horários de trabalho, “o santo baixa a qualquer momento do dia”.

“São inspiraçõe­s parecidas, passar da poesia à prosa veio naturalmen­te, foi o mesmo processo como quando inventava histórias para minha neta dormir”, afirma.

Não por acaso, dez canções são citadas ao longo de “Dropz”, e a autora faz questão de identificá-las no fim do livro, bem como seus autores e intérprete­s. Uma letra inédita, de sua autoria, foi “psicografa­da” durante a escrita, e aparece em “Mameluka”.

Rita aproveita o livro para exercitar sua porção desenhista, criando pequenas ilustraçõe­s para as histórias. “No fim de cada conto me dava vontade de fazer uma caricatura do texto... Veja você que, além de me meter a escritora, eu arrisquei fazer as ilustraçõe­s.”

É dela ainda o autorretra­to que ilustra a capa da obra, em que se pintou como uma palhaça —o original foi feito em 1997, como presente para Roberto de Carvalho, seu parceiro musical e de vida.

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Guilherme Samora/Globo Livros A cantora Rita Lee lança ‘Dropz’, seu 3º livro desde 2013
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