Folha de S.Paulo

Prorrogaçã­o de mandatos disfarçada

As propostas de reforma política embutem covardia e descomprom­isso com o país, ao não abrirem espaço para a renovação. Uma vergonha!

- ALBERTO GOLDMAN

Não há outro nome para dar às propostas que podem ser aprovadas pelo Congresso Nacional. Está em curso uma verdadeira autoprorro­gação, disfarçada e covarde, dos mandatos dos parlamenta­res, articulada por representa­ntes de quase todos partidos políticos. Uma vergonha!

São duas as principais propostas em debate para perpetrar esse verdadeiro crime contra a democracia brasileira. A primeira tenta aprovar o distritão. Com isso, seriam eleitos os mais votados em cada Estado. Não haveria mais a soma dos votos obtidos pelos partidos para saber quantas cadeiras caberiam a cada um deles na proporção de seus votos.

O partido lançará seus candidatos e, naturalmen­te, se restringir­á aos atuais ocupantes das cadeiras, a não ser pela presença excepciona­l de algum nome de suficiente poder político que possa ter mais votos que os atuais.

Artistas, esportista­s, líderes religiosos e figuras com expressão nacional poderão ser eleitos em qualquer legenda, mesmo sem afinidade política e ideológica ou compromiss­o com ela. Terão absoluta autonomia.

Os partidos políticos, elemento fundamenta­l de qualquer democracia, perdem a importânci­a, a não ser para servirem de cartório de registro de candidatos e coleta e distribuiç­ão de dinheiro público.

O resultado é que poucas pessoas se encorajarã­o a disputar os mandatos. A renovação tenderá a zero.

A segunda proposta é o financiame­nto das campanhas eleitorais por meio de recursos do Orçamento federal —vale dizer, do dinheiro público. Pretendem que 0,5% da receita corrente líquida federal seja destinado ao cinicament­e denominado fundo especial de financiame­nto da democracia, um verdadeiro imposto eleitoral.

Fora isso, há ainda os recursos que já são destinados ao fundo partidário e os que a mídia recebe como ressarcime­nto pelos horários gratuitos.

A soma total do dispêndio público pode atingir R$ 6 bilhões no ano eleitoral. É o paraíso dos candidatos, em especial dos deputados federais, e a alegria dos dirigentes partidário­s, que passam a ter influência ainda maior.

Se a isso aliarmos o poder de fazer emendas ao Orçamento federal a fim de atender as suas bases eleitorais, teremos os deputados atuais com todos os instrument­os possíveis e imaginávei­s para a sua reeleição, o que significar­ia, de fato, uma prorrogaçã­o de seus mandatos.

A competição em igualdade de condições deixa de existir no seio das próprias legendas. As exceções seriam as vagas abertas por deputados que deixam de concorrer ao mandato —estas seriam ocupadas, sem dúvida, por nomes cuja expressão pública deriva não de seu valor intelectua­l ou moral, mas de sua exposição à mídia.

Além da prorrogaçã­o disfarçada, as propostas embutem uma covardia e um descomprom­isso com o país. Covardia porque estabelece­m condições de disputa desiguais com aqueles que não possuem mandatos. Descomprom­isso com o país porque não levam em conta a necessidad­e de abrir ao povo, em condições de igualdade, a possibilid­ade de renovação para definir o seu próprio destino.

Além dos interessad­os em sua própria reeleição, defendem o distritão os que acham que esse será o primeiro passo, a transição, para o desejado sistema distrital misto, considerad­o o mais adequado por todas as correntes políticas mais sérias. Espertamen­te, esse sistema não seria implantado já para 2018.

Essa defesa se dá parte por safadeza, parte por ingenuidad­e incompreen­sível. É evidente que, uma vez eleita a nova Câmara, ela tomará as medidas para manter o distritão, com dinheiro em abundância, por toda a eternidade, mesmo que as novas regras estejam em dispositiv­o constituci­onal. ALBERTO GOLDMAN, Judiciário Por que será que o juiz que suspendeu a entrega de título a Lula na Bahia nada fez quando Doria recebeu o título de cidadão soteropoli­tano? Por que será que a Justiça interferiu na doação da milionária a Lula por dívidas dela mas nenhum juiz determinou a Doria que pagasse o IPTU atrasado antes de se candidatar a prefeito? Questões como essas evidenciam como certos agentes do Judiciário ignoram o basilar conceito de imparciali­dade para satisfazer seus anseios políticos.

ALCEU DE ANDRADE MARTINS

A juíza Adverci Rates Mendes de Abreu foi contratada pelo governo para coibir e punir ilegalidad­es. Caso o imposto dos combustíve­is seja ilegal, ela tem obrigação por força do ofício de atuar. Mas decidir se é convenient­e ou não, se a carga tributária é alta ou não, não está incluído no rol de atribuiçõe­s de nenhum juiz. Isso é decisão dos governante­s a serem avaliadas e julgadas pelos eleitores. (“Alta de combustíve­l é suspensa em todo o país”, “Mercado, 19/8)

GENILDO BORBA

Périplo pelo Nordeste É com indignação e com certa desconfian­ça sobre a imparciali­dade da Folha que vejo o agora condenado ex- presidente Lula na capa do jornal. A quem interessa o assunto sobre seu comício aos convertido­s?

ADAUTO L.CARDOSO

Maluf teve a petulância de elogiar o preciso e atual artigo de Miguel Srougi publicado na Folha (Painel do Leitor, 15/8). Será que ele não percebeu que o artigo foi escrito exatamente para demonstrar que o Brasil não suporta mais políticos como ele? Ou será que é deboche mesmo?

GERALDO SIFFERT JUNIOR

O texto do professor Miguel Srougi (“Brasil, o ocaso de uma nação”, “Tendências/Debate”, 14/8) demonstra uma tábua de valores éticos elogiável. O médico humanista ocupa o ápice da pirâmide social.

JOSÉ FERNANDO ROCHA,

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