Folha de S.Paulo

O jogo da sorte

- PAULO VINICIUS COELHO

Os dois maiores escândalos da arbitragem do futebol brasileiro estão ligadas aos jogos de apostas

RONALDO É caixa de um estacionam­ento no Parque das Rosas, subbairro da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Todas as semanas, pede palpites dos mais variados jogos de futebol. Faz quase um ano. Às vezes tem jogo do Flamengo, do Corinthian­s, da Liga de Quito, do Peñarol, do Uruguai...

Paulinho também mora no Rio e dirige uma balsa que atravessa a Lagoa de Marapendi diariament­e. Todas as semanas, preenche seu bilhete de loteria esportiva. Também pede palpites sempre que encontra alguém que julga entender de futebol.

A diferença entre os dois é que Ronaldo faz jogos oferecidos por bancas de jogo do bicho, como o repórter Sérgio Rangel mostrou em matéria da Folha, sexta-feira (18). E Paulinho faz jogos legais.

Também são legais os sites de apostas. Tem propaganda na televisão e tudo. Site de apostas pode. Banca de bicheiro não pode. Todo mundo sabe onde tem casa de jogos ilegais, tanto na região da avenida Angélica, em São Paulo, quanto no caminho do recreio dos Bandeirant­es, no Rio. As pessoas gastam horas na frente do computador apostando no Cartola. Aqui há uma diferença. O Cartola é um jogo na internet, que não envolve dinheiro e deixa muita gente ligada em questões importante­s do futebol.

Mas se você quiser fazer um grupo e jogar a dinheiro, pode...

Os dois maiores escândalos da arbitragem do Brasil estão ligadas aos jogos. Em 1982, a revista Placar desvendou a Máfia da Loteria Esportiva, rede de corrupção entre jogadores, técnicos e dirigentes para acertar resultados das partidas que estavam nos cartões da loteria oficial, da Caixa Econômica Federal.

Em 2005, Edílson Pereira de Carvalho foi pego num esquema de manipulaçã­o de resultados, por causa de uma rede de apostas ilegais. Tanto o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, quanto o mentor do esquema, o empresário Nagib Fayad, estão soltos.

Só o doping contamina mais o esporte do que as apostas. Não é só no Brasil. A Itália já teve dois escândalos monstruoso­s, sem contar os periférico­s. Em 1982, o Milan foi parar na Série B por envolvimen­to de seus jogadores e dirigentes no esquema das apostas na loteria esportiva. Em 2005, até o goleiro Gianluigi Buffon admitiu que participav­a de apostas.

Num caso paralelo de manipulaçã­o de escalas de arbitragem, a Juventus foi rebaixada.

Não é só no Brasil, não é só no futebol, não é só com bicheiros. Há apostas em jogos de tênis, da NFL, da NBA, do futebol inglês, na Itália, no Rio, em São Paulo, com carimbo oficial dos governos, com anúncio de sites em emissoras de televisão...

A CBF acaba de contratar uma empresa especializ­ada em apostas ilegais, para tentar vigiar e evitar que se repitam escândalos como os do passado. Todo mundo é inocente até que prove o contrário. E se houver erro de algum árbitro, um frango de um goleiro, gol perdido por atacante, não pense que foi porque quis errar.

Eu vou lhe avisar... Goleiro não pode falhar...

Mas muita gente vai comemorar se o zagueiro do seu time entregar o ouro e deixar alguém na cara do gol para acertar os pontos no cartão que preencheu. Seja numa banca de jogo do bicho, seja num site oficial de apostas.

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