Folha de S.Paulo

...OU TODOS ESTÃO SURDOS?

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Folha - Especulou-se que sua ida ao Spotify visava a criação de músicas elaboradas sob medida para playlists.

François Pachet -Não quero falar sobre isso. O ponto principal é dar às pessoas uma ideia precisa do que se trata a inteligênc­ia artificial.

Posso pegar uma peça de Bach e colocar no estilo de reggae. Esse processo ela pode fazer, mas não vai decidir que arquivo cai bem com o outro.

É claro que a IA poderia escolher os arquivos aleatoriam­ente, mas se você o faz assim não há chance de que chegará a algo interessan­te, a probabilid­ade é ínfima. Não há hoje nenhuma ideia da receita para o que é bom. Talvez não haja, no sentido de que uma boa música é um objeto social.

Não há nada que seja intrinseca­mente bom. É bom porque a sociedade o considera assim por algum motivo estranho que não conhece- mos. Isso tange um outro assunto que comentado há anos, que é a ciência do hit, o que faz uma música se tornar um hit. É como astrologia, uma pseudo-ciência. No que se baseiam então as pessoas que dizem ser capazes de prever um fenômeno?

A gente tem hits o tempo todo, que acontece é que, de repente, um cara vem com uma música completame­nte diferente e faz um sucesso.

Lembro-me de quando Dire Straits surgiu com “Sultans of Swing”. Era muito estranho e parecia impossível porque a música com vários minutos de duração. Foi um grande sucesso. Depois, é claro que muitos tentam copiar esse tipo de coisa, e, entre as cópias, algumas serão sucesso devido ao efeito da semelhança.

Assim, você pode prever as imitações que terão alguma chance de ser populares, mas não o verdadeiro hit, porque isso depende da reação das pessoas que o escutarão. Chegar a uma fórmula de hit nunca foi um objetivo a ser atingido com suas pesquisas realizadas dentro da Sony?

O objetivo não era criar um hit, mas ferramenta­s para ajudar pessoas a criarem músicas interessan­tes. O hit, por definição, é raro. Ter uma máquina que gere quantos hits você quiser é Como a inteligênc­ia artificial é alimentada de informaçõe­s?

O que o Flow Machines faz é, basicament­e, um quadro geral de aprendizad­o de máquina. Você concede ao computador muitos exemplos de algo, como todas as melodias de Antonio Carlos Jobim. O sistema vai analisar e extrair todos os padrões e regenerálo­s como algo que seja semelhante, mas seja diferente.

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