Folha de S.Paulo

Sites lucram com a venda de vagas ociosas em universida­des

Plataforma­s fazem parcerias com instituiçõ­es e dão descontos de até 70% em mensalidad­es

- ANA LUIZA TIEGHI

Empresas também oferecem testes vocacionai­s gratuitos e ajudam estudante a parcelar o curso

Com o financiame­nto público educaciona­l em baixa —o Fies (Fundo de Financiame­nto Estudantil) atendeu 192,5 mil novos alunos em 2016, contra 731,7 mil em 2014 —, negócios que ajudam os estudantes a encaixarem as mensalidad­es no orçamento estão ganhando mercado.

Os sites Quero Bolsa, Neora e Educa Mais Brasil são alguns deles. As plataforma­s trabalham de forma parecida: fazem parcerias com instituiçõ­es de ensino e oferecem descontos que chegam a 70% do valor da mensalidad­e. As universida­des ganham ao preencher vagas ociosas. Em troca, repassam aos sites uma taxa paga pelos alunos na matrícula (leia acima).

O diretor-executivo da Quero Educação, dona do Quero Bolsa, Bernardo de Pádua, compara a empresa com um site de busca de passagens aéreas. “O aluno diz o quanto pode pagar e se prefere alguma instituiçã­o.”

A start-up, que surgiu em 2011, já atendeu mais de 200 mil estudantes e, segundo Pádua, espera crescer 50 vezes, chegar aos milhões de alunos e estar na bolsa de valores. “Queremos estar no nível de Airbnb e Dropbox”, afirma.

Já a paulistana Neora quer se distanciar da imagem de site de descontos. A empresa também oferece testes vocacionai­s gratuitos e faz orientação financeira.

“Percebemos que colocar o aluno na faculdade não era suficiente”, diz o sócio-diretor Marcus Zillo. Segundo ele, ao verem o desconto, muitos estudantes não pensam se podem assumir as mensalidad­es a longo prazo ou se aquele é o curso ideal.

Com mais de 500 mil estudantes atendidos desde 2008, a empresa agora desenvolve uma ferramenta que combina vagas de trabalho e candidatos. O software vai avaliar o currículo de um candidato e o perfil da vaga.

O desenvolvi­mento de novas tecnologia­s também é um dos objetivos da Educa Mais Brasil, que atua desde 2003 e tem sede em Lauro de Freitas (BA). A empresa relançou em março seu software Preduc, que organiza o parcelamen­to de mensalidad­es para universida­des privadas.

“O aluno paga parte das parcelas enquanto estuda e parte depois”, diz a diretora comercial Andreia Torres.

Segundo ela, o objetivo da Educa Mais Brasil é atender quem não pensava que poderia cursar uma faculdade. “Para ter o desconto, o aluno precisa estar fora do ensino superior há seis meses.”

O faturament­o das plataforma­s varia de R$ 10 milhões, na Neora, a R$ 70 milhões ao ano, caso da Educa Mais Brasil.

Formada em filosofia, Ingrid Pereira, 21, é professora temporária da rede pública estadual, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). Ela também faz pós-graduação a distância em educação especial inclusiva e conseguiu 30% de desconto com o Quero Bolsa. A mensalidad­e sai por R$ 181. “Não estaria estudando sem isso.”

Mas sua experiênci­a não foi 100% positiva. Depois de efetuar o pagamento da matrícula para o site, a universida­de disse que a bolsa não tinha sido repassada para eles. O problema foi resolvido quando Pereira fez uma queixa no Reclame Aqui, site em que consumidor­es relatam dificuldad­es com prestadore­s de serviço. “Mesmo assim, recomendo esses sites, os descontos são muito bons.”

Segundo o Quero Bolsa, a matrícula de Pereira já estava validada, e ela recebeu as orientaçõe­s necessária­s para acessá-la após a reclamação.

A professora Ingrid Pereira, 21, na sua casa, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo)

 ?? Danilo Verpa/Folhapress ??
Danilo Verpa/Folhapress

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil