Folha de S.Paulo

Falta o fundamenta­l

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Cingapura e Finlândia eram pobres até meados do século passado. A melhoria da educação básica foi vista em ambos lugares como base para tornar suas sociedades mais produtivas e criativas. Hoje são nações desenvolvi­das.

O caminho para impulsiona­r o ensino teve variações. Os escandinav­os optaram por salas de aula e jornada escolar pequenas. Os asiáticos foram para turmas e jornadas maiores.

Apesar das diferenças, há políticas em comum. A busca por melhores professore­s é a fundamenta­l, mostra Linda Darling-Hammond, professora emérita da Universida­de Stanford, no livro recém-publicado “Empowered Educators” (Educadores Empoderado­s).

Ela liderou grupo de pesquisado­res que analisou redes educaciona­is de ponta (considerar­am também províncias da Austrália, Canadá e China). Encontrara­m nesses sistemas dura seleção para quem poderá atuar como professor.

Em Cingapura, apenas quem está entre os 30% melhores alunos do ensino médio entra em cursos que formam docentes. Na Finlândia, também ingressam apenas os melhores alunos nos cursos para o magistério, que duram cinco anos, com teoria, prática e pesquisa.

Esse rigor, aliado a salários que ao menos se equiparam ao restante da população com diploma universitá­rio, dá status aos professore­s. E atrai para escolas algumas das pessoas mais bem preparadas da sociedade.

Por aqui, virtualmen­te não há seleção para quem quer ser docente. Há abundância de vagas, pois são cursos de baixo custo para faculdades privadas.

Como o magistério não têm grande apelo para jovens com bom desempenho, são alunos abaixo da média no Enem que tendem a aproveitar a oferta na pedagogia e licenciatu­ra.

Nos últimos anos, houve avanços pontuais. A licenciatu­ra passou de três para quatro anos. Em 2008 foi aprovado piso salarial para professore­s.

As alterações, porém, não fazem parte de projeto sistêmico e foram incompleta­s. Pouco se discutiu a qualidade dos cursos. E metade dos Estados e municípios não paga o piso de R$ 2.298.

A prioridade na educação hoje é construir bons currículos para alunos do infantil ao médio. O esforço começou durante a gestão Dilma, e agora o governo Temer corre para deixar como sua marca.

Ainda que os guias fiquem bem formatados, eles serão aplicados pelos mesmos professore­s cujo recrutamen­to foi falho e que raramente recebem bom treinament­o em serviço.

Nos anos 1990, o país também colocou as fichas na melhoria de currículos, com diretrizes do que alunos deveriam aprender (atualmente se busca detalhamen­to maior).

À época, 12% dos jovens se formavam com conhecimen­to adequado em matemática. Hoje, o nível caiu para 7%.

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