Folha de S.Paulo

Os nossos supremacis­tas

-

BRASÍLIA - É feio, é ridículo, é patético o que se vê hoje sendo debatido no Congresso sob o imerecido rótulo de “reforma política”.

Tal qual um bando tresloucad­o que acaba de fugir da Torre de Babel, políticos falam de parlamenta­rismo, semiparlam­entarismo, distritão, semidistri­tão e outros modelos eleitorais e de governo com tamanha carência de propósito e conteúdo que não será surpresa se, lá na frente, chegarmos à conclusão de que o melhor mesmo é ficar tudo como está.

Para quem já queimou os fusíveis para tentar entender o vaivém desse debate, é preciso dizer que o sistema dos sonhos para a maior parte dessa gente é aquele que lhes dê a melhor chance de se manter no poder.

Só que o que é bom para um pode não ser para outro. Daí essa confusão dos diabos.

E com um show de horrores desses, abre-se a Caixa de Pandora.

Como a campanha em redes sociais que defende os anos de chumbo —disseminad­a por toda a sorte de ufanistas-moralistas que, historicam­ente, serve de massa de manobra a interesses funestos.

Embora não necessaria­mente compactuem com o racismo, a homofobia, a xenofobia e o antissemit­ismo de colegas dos EUA, os nossos supremacis­tas também desprezam a democracia e se arvoram os superiores portadores da solução que colocará ordem na casa.

Você possivelme­nte já viu o meme dos jovens Caetano, Gil, Gal e Maria Bethania sorridente­s em um dia de sol. “Na praia sendo barbaramen­te oprimidos pela ditadura.”

Há alguns anos, boçalidade­s como essas viviam felizes dentro do único lugar que deveriam habitar, a cabeça de quem pensa assim.

Com as redes sociais, porém, os nossos supremacis­tas se descobrira­m uns aos outros e se renderam até a firulas democrátic­as —a candidatur­a de Jair Bolsonaro. Como diz o velho aforismo-maldição: os ignorantes da história estão condenados a repeti-la sucessivam­ente.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil