Medicina a distância impulsiona empresas
Equipamentos portáteis que monitoram pacientes cardíacos ou com asma ganham espaço nos Estados Unidos
Devido a regras, eletrônicos da área de saúde podem demorar anos para chegar ao mercado
Tyler Crouch passou as férias do verão de 2013 criando um estetoscópio digital, e pensando: “Tomara que isso valha a pena”. Ele tinha 21 anos e era estudante de engenharia mecânica.
De lá para cá, Crouch e dois colegas da Universidade da Califórnia em Berkeley criaram a Eko Devices e arrecadaram quase US$ 5 milhões em capital. Venderam 6.000 estetoscópios digitais, usados em 700 hospitais.
Os equipamentos, sem fio, transmitem dados de batimentos cardíacos e outros sinais ao portal da Eko, onde as informações podem ser acessadas por novos médicos para uma segunda opinião.
Agora eles criaram o Duo, um estetoscópio digital de uso caseiro. O item deve começar a ser vendido nos EUA, com receita, no fim do ano.
O Duo se encaixa na mão do paciente e combina leituras de eletrocardiograma e de sons do coração em um aparelho que permite aos pacientes monitorarem sua saúde em casa e enviarem os dados a seus médicos. JOVENS EMPRESÁRIOS Os sócios da Eko Devices têm menos de 30 anos. Connor Landgraf, 26, é bioengenheiro. Jason Bellet, 24, se formou em administração.
A equipe da empresa depende dos cardiologistas da Mayo Clinic, da Universidade Stanford, do Massachusetts General Hospital e da Universidade da Califórnia em San Francisco, para consultoria.
O Duo propicia a pacientes cardíacos “um exame de nível semelhante ao de um cardiologista”, diz a médica Ami Bhatt, professora de medicina na Universidade Harvard e consultora da Eko.
Outros médicos dizem ser cedo para saber até que ponto esses dispositivos móveis de medicina, como os que monitoram diabetes e asma, serão úteis. Isso porque nem sempre se pode confiar que pacientes empregarão a tecnologia de modo correto.
“As pessoas apostam que um mercado irá se desenvolver nesse segmento, mas isso ainda não aconteceu”, diz Jeffrey Olgin, professor de medicina na Universidade da Califórnia em San Francisco.
A telemedicina já movimenta US$ 9,2 bilhões ao ano, segundo Bruce Carlson, da Kalorama Information, empresa de pesquisa especializada em saúde. O segmento cresce 8% ao ano, quase três vezes acima da média dos demais dispositivos médicos.
O Duo está ingressando em um campo altamente competitivo. O Kardia Mobile, produto mais estabelecido, tem o tamanho de um pacote de chicletes, conecta-se a smartphones e faz um eletrocardiograma em 30 segundos.
O aparelho está à venda na Amazon por US$ 99. No segundo trimestre deste ano, a AliveCore, fabricante do Kardia Mobile, recebeu mais de US$ 30 milhões em capital.
Mas a concorrência não desanima os empreendedores que criaram a Eko Devices. De acordo com Bellet, se os seus dispositivos atingirem 10% do mercado potencial, “isso fará de nós uma companhia de US$ 1,2 bilhão.”
A equipe da Eko também descobriu que a medicina não é como outros setores. “O ciclo para levar um produto ao mercado é de cinco a dez anos, porque o setor é regulamentado e se movimenta lentamente”, afirma Bellet.
Muitas pequenas empresas estão desenvolvendo aparelhos de monitoramento caseiro, diz Bellet, “mas os médicos não querem informação contínua”. Eles só querem saber quando há um problema, diz Robert Pearl, professor de política de saúde na Universidade Stanford.
Os dados tem que ser integrados à ficha do paciente, e isso é algo em que ele e seus sócios estão trabalhando, diz Bellet. As empresas de seguros precisam concordar em reembolsar os custos.
Olgin, da Universidade da Califórnia em San Francisco, disse acreditar fortemente que “não basta avaliar os dispositivos de telemedicina como bens de consumo”.
“Eles deveriam ser testados como os medicamentos, porque há consequências imprevistas”, afirma Olgin. PAULO MIGLIACCI
Tyler Crouch (à esq.), Jason Bellet e Connor Landgraf, fundadores da empresa Eko Devices
é o tamanho do mercado de telemedicina, quando o cuidado médico é feito remotamente, nos Estados Unidos pessoas morrem de insuficiência cardíaca por ano nos Estados Unidos. O problema representa a maior causa de mortes no país das crianças americanas sofrem de asma e respondem por um terço das internações em decorrência da doença hospitais americanos já receberam os 6.000 estetoscópios sem fio criados pela californiana Eko Devices , que recebeu um aporte de capital de US$ 5 milhões