Folha de S.Paulo

Doria espalha bancas e retira ‘puxadinhos’ da 25 de Março

Prefeitura multa camelôs que aumentam barracas e amplia espaço entre elas

- GIBA BERGAMIM JR.

Vendedores reclamam de não poder usar nem sequer um guarda-sol; via segue ocupada por ambulantes ilegais

A camelô Clara Lopes, 44, diz que recebeu neste ano uma notificaçã­o para pagamento de uma multa de R$ 600. Motivo: excesso de mercadoria­s expostas, ultrapassa­ndo as dimensões previstas na banca legalizada em que trabalha na rua 25 de Março, famosa via comercial do centro de São Paulo.

A punição é parte de uma decisão da gestão do prefeito João Doria (PSDB) de aumentar a fiscalizaç­ão ao comércio ambulante.

Para isso, alterou a disposição das 66 bancas com autorizaçã­o de uso na rua e mandou retirar os chamados “puxadinhos” das barracas.

Para os ambulantes, a medida até deixou as bancas de produtos mais vistosas, já que agora guardam espaço de três metros entre uma e outra —antes elas eram quase coladas umas às outras.

No entanto, tiveram redução do espaço para expor suas mercadoria­s na comparação com gestões passadas, além de não poderem usar objetos como guarda-sol para se proteger do calor.

Segundo o prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak, o que esta sendo feito é basicament­e respeitar uma lei de 1991 (atualizada em decreto de 2001) que regulament­a o comércio ambulante na cidade.

As bancas devem ter 1,2 m², segundo a lei. No entanto, eram comuns os chamados “puxadinhos”.

“Eles [camelôs] até respeitava­m as medidas, mas puxavam uma gaveta daqui, outra dali. Cada vez que eles abriam esses avançados, triplicava a barraca de tamanho”, disse o prefeito regional.

Ele afirmou que outro problema era o volume exagerado de mercadoria­s. “Eles colocavam 200 ou 300 bolsas à venda, e a banca virava um monstro”, disse Odloak.

Além disso, a maioria das barracas foi trocada de lugar. Isso porque várias delas estavam em esquinas, na frente de bancos ou em faixas de pedestres, o que é proibido.

A maioria dos TPUs (Termo de Permissão de Uso) da 25 hoje pertence a pessoas com deficiênci­a, que podem ter até dois assistente­s para atuar ali. A ambulante Isabel Menezes é uma dessas auxiliares.

“As barracas ficaram mais

EDUARDO ODLOAK

prefeito regional da Sé abertas, o cliente vê melhor. Mas deviam liberar pelo menos o guarda-sol. Em dia de sol é terrível”, disse ela, que vende bichos de pelúcia. “Toda vez que troca o prefeito querem mostrar alguma coisa e mudam as coisas aqui.”

Para Roberto Batista, 39, que acumula 17 anos de trabalho na 25 de Março, a mudança “acabou com a favela”.

“As barracas estavam muito cheias mesmo, e uma grudada na outra”, disse ele, que também é funcionári­o da banca em que vende de adesivos para unhas aos spinners — brinquedos que são febre entre crianças e adolescent­es.

Embora tenha só 66 bancas legalizada­s, a 25 de Março continua ocupada por camelôs ilegais. São aqueles que estendem lonas nas calçadas para expor de meias a brinquedos. Ao menor sinal da fiscalizaç­ão, apelidada de “rapa”, correm com os objetos.

A gestão diz que a fiscalizaç­ão foi intensific­ada e o número de apreensões de produtos piratas ou sem nota passou de 1.500 para 6.000 mensais.

Eles [camelôs] até respeitava­m as medidas, mas puxavam uma gaveta daqui, outra dali. Cada vez que eles abriam esses avançados, triplicava a barraca de tamanho

 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? Rua 25 de Março após as mudanças feitas pela gestão Doria
Zanone Fraissat/Folhapress Rua 25 de Março após as mudanças feitas pela gestão Doria

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil