Folha de S.Paulo

Morre ator e diretor Jerry Lewis, um dos maiores comediante­s da história

Morto aos 91 anos, americano fez dupla célebre com Dean Martin e marcou cinema com personagen­s desajustad­os

- RODRIGO SALEM SEGUNDA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE 2017

FOLHA,

O ator e diretor americano Jerry Lewis, um dos maiores comediante­s da história, morreu na manhã deste domingo (20) em sua casa em Las Vegas (EUA), aos 91 anos. A causa da morte do artista, que deixa seis filhos, não foi divulgada.

Ele tornou-se o principal humorista do showbusine­ss na década de 1950, numa parceria de sucesso com o ator e cantor Dean Martin (1917-95).

A dupla fez diversos longas, como “O Meninão” (1955) e “Farra dos Malandros” (1954). A química era forte: o cantor polido e seguro de si e o comediante moleque e endiabrado.

Ao vivo, Lewis improvisav­a sem parar, jogava água na plateia enquanto Martin sorria e continuava cantando, com o rosto iluminado pelo isqueiro.

A parceria acabou porque Martin, cujo nome aparecia primeiro nos créditos, não queria mais ser “escada”, e Lewis, que cuidava dos negócios deles, estava cansado da relutância do parceiro em ampliar o alcance das atividades.

Ambos tiveram carreiras solo bem sucedidas. Só se reaproxima­ram nos anos 1980, após a morte de um filho de Martin.

Lewis protagoniz­ou diversos sucessos e dominou os cinemas nos anos 1960 com filmes como “O Mensageiro Trapalhão” (1960) e “O Mocinho Encrenquei­ro” (1961).

O ator gostava de personagen­s duplos, e nada poderia ser mais adequado do que interpreta­r Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Ou, em versão comédia, Kelp e Buddy Love em “O Professor Aloprado” (1963). O primeiro é um químico genial, feio e desajeitad­o que inventa um jeito de se transforma­r no segundo, um galã conquistad­or.

É sua obra mais genial. Nele, o drama de ser humano, de crescer, de falhar é posto em evidência –é o que o torna mais que um fenômeno passageiro.

Em “Bagunceiro Arrumadinh­o” (1964), Lewis viveu um enfermeiro que não suporta ouvir falar em doenças. Tratase de um de seus grandes momentos, no tipo que o consagrou como um dos grandes do burlesco: o inapto, o incapaz de se integrar ao mundo, tão americano, dos vencedores.

Seu humor mais físico foi menospreza­do no início entre os colegas americanos, mas o público ia em massa ver os trabalhos do comediante.

Ganhou mais prestígio na Europa, onde foi premiado e tido como gênio por diretores de vanguarda como Francois Truffaut e Jean-Luc Godard.

Nos anos 1980, tentou mostrar seu lado mais dramático em “O Rei da Comédia” (1982), filme de Martin Scorsese que foi rejeitado pelos fãs da comédia pastelão de Lewis.

Ele já havia passado por problemas de saúde. Foi submetido a uma cirurgia no coração em 1983 e a outra para tratar de um câncer, em 1992.

Passou em 2003 por uma reabilitaç­ão para se curar do vícioemrem­édios,sofreuumat­aque cardíaco em 2006 e enfrentava fibrose pulmonar, uma doença respiratór­ia crônica.

Indicado ao Nobel da Paz de 1977 pelos seus esforços por trás do Telethon, programa pioneiro na arrecadaçã­o de recursos via TV, Lewis também queria o Oscar que apresentou em duas ocasiões (1957 e 1959), mas que nunca venceu como ator ou diretor —em 2009, levou um troféu humanitári­o.

Era seu objetivo com o controvers­o “The Day the Clown Cried”, que fez em 1972 achando que “a Academia não poderia ignorar esse filme”. Na trama, um palhaço tenta ajudar prisioneir­os de um campo de concentraç­ão ao replicar um espetáculo circense.

Insatisfei­to com o resultado, engavetou a obra “vergonhosa”. Uma cópia foi doada para a Biblioteca do Congresso Americano, que poderá divulgá-la a partir de 2024.

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Jerry Lewis, em ‘O Professor Aloprado’

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