Morre ator e diretor Jerry Lewis, um dos maiores comediantes da história
Morto aos 91 anos, americano fez dupla célebre com Dean Martin e marcou cinema com personagens desajustados
FOLHA,
O ator e diretor americano Jerry Lewis, um dos maiores comediantes da história, morreu na manhã deste domingo (20) em sua casa em Las Vegas (EUA), aos 91 anos. A causa da morte do artista, que deixa seis filhos, não foi divulgada.
Ele tornou-se o principal humorista do showbusiness na década de 1950, numa parceria de sucesso com o ator e cantor Dean Martin (1917-95).
A dupla fez diversos longas, como “O Meninão” (1955) e “Farra dos Malandros” (1954). A química era forte: o cantor polido e seguro de si e o comediante moleque e endiabrado.
Ao vivo, Lewis improvisava sem parar, jogava água na plateia enquanto Martin sorria e continuava cantando, com o rosto iluminado pelo isqueiro.
A parceria acabou porque Martin, cujo nome aparecia primeiro nos créditos, não queria mais ser “escada”, e Lewis, que cuidava dos negócios deles, estava cansado da relutância do parceiro em ampliar o alcance das atividades.
Ambos tiveram carreiras solo bem sucedidas. Só se reaproximaram nos anos 1980, após a morte de um filho de Martin.
Lewis protagonizou diversos sucessos e dominou os cinemas nos anos 1960 com filmes como “O Mensageiro Trapalhão” (1960) e “O Mocinho Encrenqueiro” (1961).
O ator gostava de personagens duplos, e nada poderia ser mais adequado do que interpretar Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Ou, em versão comédia, Kelp e Buddy Love em “O Professor Aloprado” (1963). O primeiro é um químico genial, feio e desajeitado que inventa um jeito de se transformar no segundo, um galã conquistador.
É sua obra mais genial. Nele, o drama de ser humano, de crescer, de falhar é posto em evidência –é o que o torna mais que um fenômeno passageiro.
Em “Bagunceiro Arrumadinho” (1964), Lewis viveu um enfermeiro que não suporta ouvir falar em doenças. Tratase de um de seus grandes momentos, no tipo que o consagrou como um dos grandes do burlesco: o inapto, o incapaz de se integrar ao mundo, tão americano, dos vencedores.
Seu humor mais físico foi menosprezado no início entre os colegas americanos, mas o público ia em massa ver os trabalhos do comediante.
Ganhou mais prestígio na Europa, onde foi premiado e tido como gênio por diretores de vanguarda como Francois Truffaut e Jean-Luc Godard.
Nos anos 1980, tentou mostrar seu lado mais dramático em “O Rei da Comédia” (1982), filme de Martin Scorsese que foi rejeitado pelos fãs da comédia pastelão de Lewis.
Ele já havia passado por problemas de saúde. Foi submetido a uma cirurgia no coração em 1983 e a outra para tratar de um câncer, em 1992.
Passou em 2003 por uma reabilitação para se curar do vícioemremédios,sofreuumataque cardíaco em 2006 e enfrentava fibrose pulmonar, uma doença respiratória crônica.
Indicado ao Nobel da Paz de 1977 pelos seus esforços por trás do Telethon, programa pioneiro na arrecadação de recursos via TV, Lewis também queria o Oscar que apresentou em duas ocasiões (1957 e 1959), mas que nunca venceu como ator ou diretor —em 2009, levou um troféu humanitário.
Era seu objetivo com o controverso “The Day the Clown Cried”, que fez em 1972 achando que “a Academia não poderia ignorar esse filme”. Na trama, um palhaço tenta ajudar prisioneiros de um campo de concentração ao replicar um espetáculo circense.
Insatisfeito com o resultado, engavetou a obra “vergonhosa”. Uma cópia foi doada para a Biblioteca do Congresso Americano, que poderá divulgá-la a partir de 2024.