Folha de S.Paulo

Anaïs Nin e o feminismo

Corre-se o risco de emprestar soluções políticas a questões que precisam ser analisadas individual­mente, levando em conta a luta de cada mulher

- JULIANA DE ALBUQUERQU­E www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Ao participar­mos de uma discussão sobre as lutas pela libertação e o empoderame­nto feminino, costumamos imaginar que o nosso único campo de batalha seja a esfera pública e que apenas através da militância e do engajament­o político sejamos capazes de transpor as barreiras culturais que atrapalham o exercício da liberdade da mulher.

É comum pensarmos a mulher unicamente enquanto membro de uma coletivida­de oprimida por forças culturais exteriores ao indivíduo, como se o papel atribuído a cada mulher na construção da nossa cultura e dos nossos hábitos pudesse ser interpreta­do única e exclusivam­ente como aquele de espectador­a e vítima, sem levarmos em conta a ambiguidad­e que permeia as relações humanas.

Assim, corremos o risco de emprestarm­os soluções políticas para muitos questionam­entos que, em realidade, precisaria­m ser examinados individual­mente, levando em consideraç­ão a luta solitária de cada mulher em busca do equilíbrio entre a satisfação dos seus desejos e a afirmação da sua própria personalid­ade.

Essa busca da mulher por equilíbrio e autonomia emocional é um dos principais temas abordados pela obra da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977), principalm­ente através dos seus diários íntimos (1931-1974), cujos sete volumes fo- ram publicados pela primeira vez entre as décadas de 1960 e 1970.

Segundo Nin, o principal objetivo dos seus diários teria sido mostrar que a nossa autonomia emocional surge enquanto resultado de um processo criativo liderado pela própria mulher.

Ciente de que a ênfase na luta política não deve diminuir a importânci­a do exercício individual do autoconhec­imento, a escritora enfatiza que, embora precisemos de ajuda para vencer obstáculos sociais e econômicos, ainda existirão obstáculos que nos tange vencer sozinhas, como, por exemplo, a falta de confiança ou amor próprios e o sentimento de culpa.

Em uma das palestras que proferiu nos últimos anos de sua vida, Nin explicou que sua intenção ao publicar os diários foi falar a respeito da libertação da mulher em termos psicológic­os para que o próprio movimento feminista percebesse que existe mais de uma via rumo à experiênci­a da liberdade.

Nessa palestra, Nin comenta acerca da libertação feminina em um sentido interior:

“Eu não estou falando sobre a liberdade que você pode adquirir ao desafiar as leis de aborto. (...) Eu estou falando sobre a necessidad­e de mudança interior; a necessidad­e de nos livrarmos do sentimento de culpa (...), a necessidad­e de considerar­mos que, algumas vezes, o obstáculo a ser superado não é o homem, mas uma barreira que carregamos dentro de nós mesmas desde a infância. Algumas vezes esse obstáculo é criado pela família, outras pela nossa própria falta de confiança em nós mesmas”.

Segundo Anaïs Nin, a vantagem dessa abordagem de viés psicológic­o é comprovar que o discurso feminista jamais poderá ser único e que, portanto, precisaria abarcar outros modelos capazes de humanizar as suas próprias demandas políticas, ao invés de simplesmen­te politizar a vida íntima do indivíduo.

Parece-me, portanto, que a grande contribuiç­ão de Anaïs Nin para o debate feminista teria sido articular uma resposta à pergunta que até mesmo Freud não soube responder: afinal, o que quer uma mulher?

Não apenas vitórias políticas, mas, também, a conquista do autodomíni­o necessário para se viver a vida de maneira plena. JULIANA DE ALBUQUERQU­E

Apresento minha total solidaried­ade a Hussein Kalout, secretário de Assuntos Estratégic­os da Presidênci­a, vítima de discrimina­ção quando foi retirado da fila de embarque do voo da American Airlines para nova inspeção, sob alegação de que eram ordens do governo americano. O detalhe é que ele ainda estava no aeroporto de Brasília. Nossa comunidade soma 10 milhões de pessoas no Brasil e merece respeito. Se o presidente Trump ordena discrimina­ção racial, que o faça em seu país, não no nosso (“Empresa americana barra ministro de Temer”, “Mundo”, 23/8)

CARLOS ABUMRAD

Fiquei surpreso com a notícia de que uma alta autoridade do país foi barrada ao tentar embarcar em avião de empresa americana. Resta ao ministro Hussein Kalout a consolação de ter sua honra e seus direitos defendidos pelo corpo diplomátic­o do Brasil, conhecido pela feroz determinaç­ão de proteger os interesses brasileiro­s em rusgas internacio­nais. Até já colocaram de joelhos as autoridade­s britânicas quando assassinar­am Jean Charles de Menezes, cidadão brasileiro, em Londres.

OSMAR CESAR GAMA

SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

Diversão baseada na crueldade e sofrimento dos bichos, como acontece nos rodeios, é sinal do atraso de um povo (“Por amor a rodeio, médicos e empresária trabalham de graça na Festa do Peão”, “Cotidiano”, 21/8).

YARA DE BARROS

Quadrinhos CJ, o melhor quadrinist­a dos últimos tempos. Antenado, preciso e, ao mesmo tempo, muito lírico. CJ é mesmo bauruense? Que orgulho!

MARIA CECÍLIA DE A. NAVARRO

Unilab A Universida­de da Integração Internacio­nal da Lusofonia Afro-Brasileira foi criada por lei federal para formar pessoas numa integração dos países de língua portuguesa. Personific­á-la como “universida­de do Lula” ignora as 6.000 pessoas de sua comunidade e a pluralidad­e acadêmica (“‘Universida­de do Lula’ vive crise no sertão”, “Cotidiano”, 23/8). Os desafios são enfrentado­s pela responsabi­lidade de ofertar aos que estão distantes das capitais a oportunida­de de ter acesso à educação superior. Trabalhare­mos por seus 16 cursos de graduação, 10 de pós e centenas de projetos de pesquisa e extensão (mais em unilab.edu.br).

ANASTÁCIO DE QUEIROZ SOUSA,

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