Folha de S.Paulo

‘Robôs’ motivam até 20% de debates em apoio a políticos no Twitter, diz estudo

- JOSÉ MARQUES

Perfis automatiza­dos, operados até do exterior, motivaram debates no Twitter em situações de repercussã­o política brasileira desde as eleições de 2014, aponta estudo feito pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Em momentos como os debates presidenci­ais de 2014, manifestaç­ão pelo impeachmen­t de Dilma Rousseff em março de 2016 e a greve geral deste ano, apoiadores de um dos lados interagira­m em cerca de 20% com “robôs” na rede social —como são chamados esses perfis.

Os robôs impactam nos assuntos discutidos na internet e, segundo a pesquisa, promovem “a desinforma­ção com a propagação de notícias falsas e campanhas de poluição da rede”.

E estavam por todos os lados. Havia perfis que apoiaram Dilma Rousseff (PT) em 2014, assim como Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (ex- Interações motivadas por robôs PSB, hoje Rede).

Em 2016, eles estavam no lado contrário e no favorável ao impeachmen­t. Nas eleições municipais de São Paulo, participar­am de discussões a favor de João Doria (PSDB), Fernando Haddad (PT) e ainda de Celso Russomanno (PRB).

O estudo, feito pela Diretoria de Análises de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, verificou no Twitter seis momentos-chave da política, entre o primeiro turno de 2014 e a votação da reforma trabalhist­a pelo Senado, em julho.

Os pesquisado­res, no entanto, propagar suas ideias”, afirma Marco Aurélio Ruediger, diretor da DAPP.

Segundo ele, a análise foi feita apenas no Twitter porque permite comparação internacio­nal —nos EUA, Donald Trump usa a ferramenta para se manifestar ao público e imprensa— e é uma plataforma amplamente usada por políticos e partidos.

O DAPP conclui que “o cresciment­o da ação concertada de robôs representa uma ameaça real para o debate público, representa­ndo riscos, no limite, à democracia”. FAKE NEWS é um dos propósitos dos robôs, assim como o de promover ataques virtuais.

“A eleição do ano que vem que vai ser extremamen­te importante para o país e, com a importânci­a que as redes sociais vão ter nela, é impossível imaginar que haverá menos robôs do que já houve”, afirma Ruediger. Ele faz previsões catastrófi­cas: “Estamos identifica­ndo um ‘tsunami’ [de robôs] chegando. Temos que nos preparar para isso, com centros de pesquisas se aparelhand­o e órgãos públicos competente­s para monitorar esse fato.”

Em 2014, um levantamen­to feito a pedido da Folha ao Laboratóri­o de Imagem e Cibercultu­ra da Universida­de Federal do Espírito Santo já apontava que as conversas no Twitter e Facebook no debate presidenci­al do segundo turno foram fortemente influencia­das pela presença de robôs.

Em 2016, o mesma entidade apontou ataques virtuais de robôs contra o candidato Marcelo Freixo (PSOL) no Rio.

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