Folha de S.Paulo

Delator promete extratos de propina do PSDB

Empresário Adir Assad diz que entregará provas de transações para gerar dinheiro para empreiteir­as em obras tucanas

- REYNALDO TUROLLO JR.

Operador admitiu que usou mais de uma dezena de empresas de fachada para firmar contratos fictícios

O empresário Adir Assad, que assinou na segunda (21) acordo de delação com o Ministério Público Federal, entregará aos investigad­ores extratos que, segundo ele, comprovam transações feitas para “gerar” dinheiro para empreiteir­as pagarem propina em obras do PSDB em São Paulo.

Entre essas obras estão o Rodoanel e a ampliação da marginal Tietê, na capital, projetos administra­dos pela Dersa (Desenvolvi­mento Rodoviário S.A.), ligada ao governo de São Paulo.

Assad admitiu que usou mais de uma dezena de empresas de fachada para fazer contratos fictícios com grandes empreiteir­as. Conforme a delação, as construtor­as pagavam às empresas dele por serviços inexistent­es, como de terraplena­gem —Assad chegava a simular a prestação dos serviços, colocando máquinas no canteiro de obras.

Dos pagamentos, o operador diz que descontava os impostos e sua “comissão”, que em geral era um percentual do valor, e devolvia o restante às empreiteir­as, que usavam esse dinheiro para pagar propina a agentes públicos.

Segundo o delator, quem indicou a ele as empreiteir­as para efetuar as transações foi Paulo Vieira da Silva, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor da Dersa no governo do tucano José Serra, hoje senador.

Segundo a Folha apurou, Assad disse nas tratativas do acordo de delação que Paulo Preto relatou a ele que operava para tucanos paulistas, como Serra e o chanceler Aloysio Nunes Ferreira. Eles negam.

O delator não relatou encontros diretos com esses políticos, que têm foro privilegia­do no STF (Supremo Tribunal Federal), somente com Paulo Preto, o suposto intermediá­rio. Por isso, seu acordo foi costurado com integrante­s do Ministério Público Federal de São Paulo, Rio e Curitiba que atuam na pri- meira instância.

A delação precisou ser fechada nos três locais porque o empresário é réu em ações penais no Rio e em Curitiba e mencionava fatos relacionad­os a São Paulo. Agora, o acordo seguirá para homologaçã­o da Justiça Federal.

Assad se compromete­u a entregar, entre outras coisas, os extratos de entrada e saída do dinheiro oriundo das empreiteir­as nas contas das suas empresas de fachada. Também vai detalhar sua relação com Paulo Preto.

O delator ofereceu aos pro- curadores mais de 50 anexos, documentos que trazem os temas que ele pretende abordar em seus depoimento­s. Ao menos um deles tem o ex-diretor da Dersa como alvo principal, apurou a Folha.

Paulo Preto entrou na Dersa como diretor de Relações Institucio­nais em agosto de 2005, no primeiro governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Em 24 de maio de 2007, no primeiro ano do mandato de Serra, foi nomeado diretor de Engenharia da companhia, onde permaneceu nessa função até 9 de abril de 2010. Foi nessa época que foram tocadas as obras do trecho sul do Rodoanel e da marginal Tietê, que gerou denúncia do MP-SP.

Delatores da Odebrecht também citaram Paulo Preto, que figura em um inquérito aberto pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar Serra e Aloysio Nunes.

Segundo a Odebrecht, o então diretor pediu, em 2007, 0,75% dos contratos que as empreiteir­as mantinham com a Dersa em troca de não terem seus negócios prejudicad­os. Todos negam o crime.

Assad está preso no Para- ná desde março de 2015. Em setembro daquele ano, ele foi condenado pelo juiz Sergio Moro a quase dez anos de prisão por organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro, em um caso relativo à Petrobras.

O operador vinha negando os crimes. A estratégia da defesa mudou após o advogado Pedro Bueno de Andrade assumir o caso. No bastidor, Assad já tinha tentado delatar.

Pelo acordo, ele pagará multa de R$ 50 milhões e ficará três anos em regime fechado —descontand­o o tempo que ele já ficou na cadeia.

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