Folha de S.Paulo

—montante menor só ao pago no Brasil.

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Luisa Ortega Díaz, procurador­a-geral destituída pela Assembleia Constituin­te da Venezuela, disse nesta quarta-feira (23) que entregará às autoridade­s de quatro países, incluindo o Brasil, as provas que incriminam o ditador Nicolás Maduro e seus aliados em casos de corrupção.

A dissidente chavista afirma que, dentre eles, estão as acusações relacionad­as à construtor­a brasileira Odebrecht. O material será entregue também a procurador­es de EUA, Colômbia e Espanha.

“Essas provas tenho comigo e vou cedê-las aos Estados para que procedam a investigar as pessoas a que correspond­am, a Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, Jorge Rodríguez, não somente pelo caso Odebrecht”, disse Ortega Díaz, em encontro de procurador­es-gerais de países do Mercosul em Brasília.

O constituin­te Cabello e Rodríguez, prefeito de Libertador (município mais populoso do país), são considerad­os os dois principais dirigentes do chavismo depois de Maduro.

Pela primeira vez, a ex-procurador­a relatou que tem provas de que Cabello recebeu US$ 100 milhões da Odebrecht por meio de uma empresa espanhola registrada em nome de seus primos.

A companhia associou-se à Odebrecht no consórcio para a construção de uma linha de metrô e tem contratos com a petroleira estatal PDVSA.

Cabello nega as acusações e ironizou a ex-aliada: “Por que não me investigou quando era procurador­a, minha rainha? Parece que você está louca.”

Segundo a procurador­a deposta, há 11 obras da Odebrecht paralisada­s em seu país —no início do mês, ela acusou o governo de ter pago US$ 30 bilhões à empreiteir­a pelas edificaçõe­s inacabadas.

Ela, porém, afirma não ter detectado participaç­ão de políticos brasileiro­s nos crimes.

Sobre Maduro, Ortega Díaz diz que o ditador é dono de uma empresa no México da qual o regime importa a comida para as cestas básicas de seu programa de venda de alimentos escassos no país.

Segundo a Folha apurou, as informaçõe­s reveladas não têm ligação com os acordos de delação e leniência da Odebrecht. Os advogados da empresa se reuniram pelo menos duas vezes com Ortega Díaz quando ela ainda estava no cargo — uma em Brasília e outra em Caracas — na tentativa de fechar uma colaboraçã­o premiada.

Porém, as conversas não avançaram porque medidas contra ativos e pessoas da empresa continuara­m a ser tomadas pelo governo. Uma delas foi o pedido de prisão de Euzenando Prazeres de Azevedo, que foi diretor da empreiteir­a no país.

Procurador­es venezuelan­os que trabalhara­m com Ortega chegaram a viajar para o Brasil no começo de agosto para ouvir o marqueteir­o João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, sobre campanhas realizadas no país.

Em sua delação, Mônica afirmou que a Odebrecht pagou “por fora” US$ 11 milhões pela campanha de Hugo Chávez à reeleição, em 2012.

Ortega chegou ao Brasil na noite de terça (22) acompanhad­a por assessores e pelo marido, o deputado Germán Ferrer. Eles estavam desde a última sexta (18) na Colômbia, onde ela quer se asilar.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, também ofereceu asilo à ex-procurador­a, mas ela afirmou que pretende permanecer na Colômbia.

Pelo acordo feito com o Departamen­to de Justiça dos EUA, a Odebrecht teria pago US$ 98 milhões a políticos venezuelan­os OUTRO LADO A Odebrecht nega que as 11 obras na Venezuela estejam paralisada­s. “O ritmo das obras em execução acompanha o cronograma de pagamentos dos clientes locais.”

Em nota, a empreiteir­a disse que “está colaborand­o com a Justiça no Brasil e nos países em que atua” e que “já reconheceu os seus erros [...] e está comprometi­da a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”.

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Pedro Ladeira/Folhapress Luisa Ortega Díaz, procurador­a deposta pela Constituin­te da Venezuela, é recebida pelo chanceler Aloysio Nunes Ferreira

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