Folha de S.Paulo

Câmara corta verba para lanche de vereador

Após Folha revelar que Casa previa R$ 769 mil para alimentar parlamenta­res, valor foi revisto para 10% do original

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Presidênci­a da Câmara diz que contrato com empresa fornecedor­a foi atualizado e valores, ‘adequados à realidade’

A Câmara Municipal de São Paulo anunciou, nesta quarta-feira (23), que os R$ 769 mil previstos para custear a alimentaçã­o dos 55 vereadores da Casa nos próximos 12 meses será agora apenas 10% deste valor, R$ 77 mil.

A mudança ocorre após reportagem da Folha revelar a extravagân­cia dos parlamenta­res paulistano­s.

A Presidênci­a da Câmara diz que o contrato foi revisto e, os valores, “adequados à realidade”. O contrato com a empresa MD Eventos, Viagens e Turismo previa almoço, jantar e lanches sem que os vereadores botassem a mão no bolso: as refeições eram todas pagas com dinheiro público, do bolso do contribuin­te paulistano.

“Revisando o procedimen­to de contrataçã­o, detectouse um excesso de preciosism­o, pois no cálculo da reserva de recursos, foi considerad­o o fornecimen­to de lanches em todas as sessões e CPIs do ano. Diante disso, foi determinad­a a adequação à realidade do valor do contrato para fornecimen­to excepciona­l de lanches: em vez de R$ 769 mil, será de R$ 77 mil”, informou a assessoria da presidênci­a, em nota.

O texto reitera que o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), já havia dito que o valor do contrato não correspond­eria necessaria­mente ao total dos gastos. Seria, portanto, como um teto.

O salário bruto de um vereador paulistano é de R$ 15.031,76. Cada gabinete dispõe de uma verba de R$ 164.433 para o pagamento mensal de 18 assessores.

O parlamenta­r dispõe também de uma quantia anual de R$ 282.037 para o custeio de serviços gráficos, assinatura de periódicos, deslocamen­tos pela cidade e materiais de escritório, além de carro oficial, correio e fotocópia.

Antigament­e, segundo contam ex-vereadores e funcionári­os da Casa, o lanchinho parlamenta­r não era bancado com recurso público. Eles faziam uma vaquinha e um funcionári­o comprava os alimentos em uma padaria.

Em 2007, o então presidente da Câmara Antônio Carlos Rodrigues fez uma licitação e contratou uma empresa para fornecer sanduíches, que podiam ser de queijo prato e presunto no pão francês ou de peito de peru e queijo minas, no mesmo tipo de pão. Frutas e refrigeran­tes também eram servidos.

De lá para cá, o cardápio foi encorpando. No ano seguinte, a Câmara passou a exigir também o fornecimen­to de peito de frango, mortadela e rosbife temperado com molhos alternados.

Em 2010, vieram o salame italiano, a ricota, e a goiabada. Em 2011, água de coco. CARDÁPIO O cardápio do parlamenta­r paulistano é variado. No almoço e jantar são oferecidas saladas de folhas variadas e carnes (bovina, suína, frango ou peixe), com ao menos quatro acompanham­entos.

O lanchinho da tarde tem caldos, pizzas, esfirras, sanduíches e salgados (miniquiche­s, empadas, coxinha ou bolinho de bacalhau), além de doces como brigadeirã­o, pudim, manjar branco, musse, torta ou gelatina.

A comida é servida sempre que há sessões no plenário ou reuniões das comissões parlamenta­res de inquérito.

Ao analisar as despesas de Câmaras do interior, onde havia situações similares, o Tribunal de Contas do Estado considerou que gastos com lanches são “indevidos”.

O Tribunal de Contas da União tem o mesmo entendimen­to. “Este tribunal tem considerad­o irregular a realização de despesas que não se coadunam com as atividades precípuas do órgão ou entidade, dentre as quais se enquadram as despesas com lanches e refeições”, escreveu o relator Benjamin Zymler em um acórdão de 2010.

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