Violência no Rio faz escola de samba criar ‘matinê’
Com escalada de homicídios, agremiações decidem mudar o horário dos ensaios
Crise na segurança já fez mortes violentas crescerem 15% no 1º semestre em relação ao mesmo período de 2016 DO RIO
O samba vai acabar mais cedo. Pelo menos na Portela e na Unidos da Tijuca. As duas escolas decidiram antecipar o horário das disputas dos sambas-enredo para o próximo Carnaval por causa da violência no Rio.
Atual campeã, a Portela trocou até o dia. Antes, a disputa começava nas noites de sexta por volta das 23h e só terminava no dia seguinte. No domingo (20), a primeira eliminatória foi realizada num horário de “matinê”. A festa começou às 17h e terminou pouco depois das 23h.
“Quando cheguei em casa cedo, minha mulher nem acreditou. Mas a coisa está feia nas ruas. A própria ala dos compositores pediu a mudança e achei bastante razoável”, justifica Luis Carlos Magalhães, presidente da Portela.
O Rio sofre com a escalada da violência. No subúrbio, reduto das escolas de samba, as ruas ficam vazias mais cedo. O número de mortes violentas no Estado no primeiro semestre deste ano (3.457) cresceu 15% em relação ao mesmo período de 2016. Foi o pior primeiro semestre desde 2009.
“Num período de menos de um ano, muita coisa mudou aqui. A troca de horário é reflexo da violência, diz o presidente da Portela, que é funcionário LUIS CARLOS MAGALHÃES presidente da Portela público e sofre com a crise financeira do Estado.
A Unidos da Tijuca adiantou também o início da escolha do samba. Na quinta (24), a escola do Morro do Borel faz o seu “happy hour” a partir das 18h. Acaba às 23h.
“Antes, ficávamos até 3h, mas a situação mudou. As pessoas estão com receio de voltar pra casa tão tarde. Por isso, fizemos esse horário alternativo”, explica Fernando Horta, presidente da escola.
Para atrair mais público, o dirigente decidiu também não cobrar ingresso. “A crise econômica está muito forte no Rio. Estamos tentando ajudar os competidores de todo jeito”, acrescentou Horta.
Em novembro, com os sambas definidos, as escolas começam os ensaios, que viram a noite nas quadras. Algumas estudam mudar o horário.
“Na minha adolescência, o bacana era chegar na escola e contar que tinha visto o sol raiar na Mangueira durante o ensaio. Acho difícil isso acontecer este ano. Infelizmente, não sou nada otimista. Mas vamos ver o que acontece até lá”, diz o presidente da Portela. ESCOLAS A onda de violência que atinge cidade fez também com que nesta semana, prefeitura anunciasse o fechamento de 15 escolas da região do Jacarezinho, na zona norte carioca, por tempo indeterminado.
Outras 11 unidades na região do Jacarezinho e de Manguinhos terão mudança no horário de funcionamento.
A Secretaria Municipal de Educação afirmou, em nota, que a decisão pelo fechamento foi tomada após uma reunião com 26 diretores de escolas das duas comunidades, onde também foi definida uma área de maior risco.
Também sinal da violência que atinge o Estado é o número de mortes de policias militares. Quase cem PMs foram assassinados no Rio de Janeiro neste ano. Em 2017, um PM foi morto a cada dois dias. O número inclui mortos em serviço (21), em folga (56) e aposentados (20), todas vítimas de ações violentas. Nesse ritmo, caminha em direção à assombrosa marca de 200 casos em um ano –o maior número foi atingido em 1994, quando morreram 227 policiais.
“adolescência, o bacana era chegar na escola e contar que tinha visto o sol raiar na Mangueira durante o ensaio. Acho difícil isso acontecer este ano. Infelizmente, não sou nada otimista. Mas vamos ver o que acontece até lá