Folha de S.Paulo

Longa alemão falha ao tentar fazer piada com o Holocausto

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DO CRÍTICO DA FOLHA

Fazer piada com o Holocausto é tarefa que só a leveza de Charles Chaplin ou a ambição de Roberto Benigni de se comparar ao deus da comédia se permitiram.

“Bye Bye Alemanha” mete a mão nesse vespeiro sem contar com a habilidade desses antecedent­es e o resultado não tem audácia nem graça.

O diretor Sam Garbarski tornou-se conhecido com “O Tango de Rashevski” (2003), no qual atualizava as ambiguidad­es da identidade judaica no mundo atual.

Em seu novo longa, o diretor aborda o tema pouco visitado do retorno de judeus à Alemanha ao fim da Segunda Guerra, com o país quase apagado pelos bombardeio­s aliados e o fim do delírio nazista.

O deslocamen­to do apogeu da política hitlerista de extermínio para o período do pósguerra oferece um ângulo novo para um período histórico explorado à exaustão.

Vemos o sobreviven­te David Bermann retornar ao país devastado, um lugar no qual ele tem muitos motivos para não querer permanecer. Além dos traumas pessoais e coletivos, a destruição à volta não oferece nenhuma perspectiv­a.

Enquanto tenta imigrar para os Estados Unidos, o protagonis­ta lidera um grupo de trapaceiro­s com outros sobreviven­tes e, como um malabarist­a, enfrenta as ordens das autoridade­s militares que ocupam o país.

Em meio a esse presente incerto, Bermann é invadido por lembranças dos campos da morte enquanto é interrogad­o por uma investigad­ora americana.

Compreende-se a intenção do diretor de fugir da moldura trágica e tocar em temas espinhosos, como o colaboraci­onismo dos sobreviven­tes nos campos de extermínio.

Entretanto, mostrar prisioneir­os gordinhos e viçosos em beliches é uma imagem que somente a encenação nazista no campo de Terezin já havia proposto para convencer o mundo da época que era “fake news” a história de que o regime de Hitler maltratava judeus.

O filtro do humor judaico produz reações menos sujeitas à polêmica nas situações em que Bermann trapaceia para obter vantagens, incluindo aspectos da astúcia humana que colocam a ética na corda bamba.

A vontade de parecer original, contudo, não leva a lugar nenhum na medida que “Bye Bye Alemanha” nunca avança fora dos limites, propõe um humor ajuizado, portanto, inócuo. (CÁSSIO STARLING CARLOS) (ES WAR EINMAL IN DEUTSCHLAN­D...) DIREÇÃO Sam Garbarski ELENCO Moritz Bleibtreu, Antje Traue PRODUÇÃO Alemanha/Luxemburgo/Bélgica, 2017 QUANDO estreia nesta quinta (24) AVALIAÇÃO regular

 ??  ?? Naomi Watts, Woody Harrelson (com Chandler Head nos ombros), Iain Armitage e Olivia Kate Rice em ‘O Castelo de Vidro’
Naomi Watts, Woody Harrelson (com Chandler Head nos ombros), Iain Armitage e Olivia Kate Rice em ‘O Castelo de Vidro’

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