Folha de S.Paulo

Privatizaç­ão de aeroportos cria rombo de R$ 3 bi, diz Infraero

Cálculo de estatal é contestado pelo Ministério dos Transporte­s

- JULIO WIZIACK

Em mais um embate com o ministro dos Transporte­s, Maurício Quintella, o presidente da Infraero, Antônio Claret, apontou riscos para compradore­s e para a União caso o plano de privatizaç­ão de aeroportos seja levado adiante como anunciado na quarta (24) pelo governo.

No documento, a que a Folha teve acesso, Claret se diz “preocupado” e afirma que, sem os 14 aeroportos aprovados para venda em blocos pelo governo —incluindo Congonhas—, a Infraero precisará de R$ 3 bilhões por ano para custeio.

A empresa tem 54 aeroportos, dos quais 17 são lucrativos. Estes financiam os que operam no vermelho. O plano do governo é vender os aeroportos grandes e lucrativos. Estão na lista Congonhas, Cuiabá (MT) e Recife.

Claret afirma que, consideran­do o lucro das operações, Curitiba, Recife, Congonhas e Santos Dumont (RJ) contribuem com 78% do resultado.

Sem os 14 aeroportos, haverá necessidad­e de R$ 7 bilhões para investimen­tos, o fluxo de caixa ficará negativo em R$ 400 milhões por ano durante 15 anos e a União terá de destinar R$ 3 bilhões para a Infraero.

Claret também apontou um erro no cálculo da outorga do bloco de aeroportos do Nordeste. Segundo ele, em vez de R$ 1,2 bilhão, seriam R$ 200 milhões.

Quintella e Claret pertencem a alas diferentes do PR (Partido da República), que herdou a maior parte dos cargos no setor de transporte­s no governo Michel Temer.

O ministro, que é deputado licenciado pelo PR de Alagoas, enfrenta resistênci­a de Claret para reestrutur­ar a In- fraero, que, desde o final do ano, está sob o comando dos deputados do PR de Minas Gerais ligados a Claret.

Técnicos do Ministério dos Transporte­s consultado­s afirmam que os números de Claret não são corretos.

Congonhas, por exemplo, responde por cerca de R$ 350 milhões do resultado da estatal, que, neste ano, deve ser de R$ 400 milhões. Cuiabá e Recife participam com menos de R$ 50 milhões.

Além disso, o modelo que está sendo discutido pelo ministério e pela SAC (Secretaria de Aviação Civil) permitirá à estatal continuar viável.

O enxugament­o da estatal incomoda o PR mineiro. “Não dá para manter a maior operadora da América Latina”, disse o Secretário de Aviação Civil (SAC), Dario Rais Lopes. REESTRUTUR­AÇÃO Por meio de sua assessoria, Quintella disse que, para manter a Infraero competitiv­a, o ministério trabalha na reestrutur­ação da estatal.

Segundo a pasta, só a venda das participaç­ões acionárias da Infraero em aeroportos já concedidos poderá garantir, no mínimo, R$ 3 bilhões. O valor é dez vezes maior do que o resultado líquido anual de Congonhas, por exemplo. Portanto, as medidas adotadas vão reequilibr­ar o caixa da empresa e torná-la sustentáve­l, afirmou.

O presidente da Infraero não quis comentar.

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