‘Tribalistas é férias, não pode ser trabalho’
Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown destacam a diversão como maior razão para retomar projeto
Segundo disco do trio é lançado 15 anos depois da estreia, mas artistas nunca pararam de fazer músicas em parcerias
“Tribalistas” está nas lojas e nas plataformas digitais. Leva o mesmo título do disco de estreia do projeto conjunto de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, que foi o grande sucesso da música brasileira em 2002.
O segundo trabalho vem num pacote farto. O CD com dez faixas inéditas terá nas lojas a companhia de um DVD que mostra os músicos tocando todas as músicas no estúdio e no mundo digital o formato “hand album”, que traz além do áudio encarte com letras, ficha técnica e fotos.
Quem esperar ruptura musical vai encontrar na verdade as certeiras harmonizações vocais e o instrumental rico do primeiro disco, em versão mais depurada.
“A gente não foi atrás de um conceito musical novo, não é uma banda fazendo carreira e querendo se renovar a cada disco. É só vontade de mostrar essas músicas”, diz Arnaldo à Folha, dando entrevista em Copacabana.
“Do jeito que a gente toca na varanda”, acrescenta Marisa. Brown entra na conversa, como se fizesse uma solene declaração de intenções dos Tribalistas, arrancando risos: “Não transgredir nem agredir nem agradar!”.
Na verdade, o trio nunca parou de trabalhar junto. Nos discos individuais que lançaram entre os dois álbuns dos Tribalistas estão 23 canções escritas pelo trio. Se foram contadas também parcerias de apenas dois deles, o número sobe para 57 músicas.
O álbum surge como lugar para reunir novas canções, que poderiam seguir espalhadas nos discos de cada um.
“A gente achou que essas músicas ganhariam potência gravadas pelos três. Se um de nós gravasse ‘Diáspora’ ia ser lindo, mas com os três é mais forte”, diz Marisa.
As quatro músicas liberadas na internet antes do lançamento apontavam uma sonoridade semelhante ao primeiro disco, mas se “Aliança” e “Fora da Memória” retinham uma leveza que marcou a estreia, “Diáspora”, sobre refugiados, e “Um Só”, sobre a política, mostraram o trio mais contundente. A MUDANÇA É O MUNDO Para Marisa, há uma mudança importante entre 2002 e 2017 que se reflete nas canções, mais do que mudar timbres ou textura do som. “A mudança é do mundo. O trabalho reflete o que vivemos.”
“Tem músicas, como ‘Fora da Memória’ e ‘Ânima’, que são mais reflexivas”, continua. “Já ‘Feliz e Saudável’ e ‘Aliança’ falam com está do seu lado, ‘Diáspora’ e ‘Lutar e Vencer’ falam do mundo.”
Esta última poderia ser trilha da ocupação das escolas pelos estudantes em protestos. Marisa visitou as ocupações no Rio, e Arnaldo fez o mesmo em São Paulo.
Se o disco passa uma sensação de alegria na música do trio, o DVD deixa isso escancarado. “É muito prazeroso”, diz Arnaldo sobre o trabalho. Eles gravaram uma música por dia, “das três da tarde até a hora que terminasse a faixa”, lembra Marisa.
“A gente quis preservar isso”, explica a cantora. “Essa intimidade, esse conforto. A gente não precisa de muito. Com nosso material e poucos amigos em volta, a gente tem tudo o que deseja.”
Brown diz que o importante é a diversão, e deixa a frase de impacto para a parceira: “A gente não quer transformar isso em trabalho. Queremos que continue sendo férias para a gente!”. REVELAÇÃO Quando fizeram o primeiro álbum, não tinham expectativas. Sabiam que não eram uma banda, mas ganharam até prêmio de grupo revelação. “E aceitamos!”, riem.
Arnaldo define o trabalho como algo próximo de discos de colaboração, de muita tradição na música brasileira, “como Elis e Tom, Bethânia e Chico, Doces Bárbaros”.
Turnê? Neste ano não vai acontecer. Brown está na TV, no “The Voice”, Marisa viaja para shows com Paulinho da Viola, e Arnaldo acaba de lançar DVD gravado em Lisboa.
Em 2018, quem sabe? THALES DE MENEZES