Folha de S.Paulo

Sim, é um casuísmo gigantesco, que só piora o que está

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Folha - O sr. criticou o presidente Temer e o ministro do Supremo Gilmar Mendes quando eles defenderam o semipresid­encialismo. Qual o problema desse regime?

Luiz Felipe de Alencastro – Há duas questões prévias. A primeira é que o tema do parlamenta­rismo foi submetido a sufrágio popular em 1963, em situação tumultuada, e foi recusado por quase três quartos do votos. Isso ocorreu de novo em 1993, o tema foi exaustivam­ente discutido e teve só 25% dos votos. Por que a volta agora?

O parlamenta­rismo foi retomado de maneira oportunist­a por candidatos derrotados. É uma gambiarra institucio­nal. Eleição presidenci­al é a disputa mais importante, quando o país vira um colégio eleitoral único e os debates são verdadeira­mente nacionais. O Brasil é o único agregado colonial europeu que não se fragmentou. Isso é uma qualidade?

Isso é um fato histórico, e a eleição presidenci­al é um momento alto da identidade nacional, onde o presidente tem de catar voto pelo país todo numa campanha exaustiva. Esse debate é retomado como se nunca tivesse sido discutido antes. Isso é insultante à opinião pública. Todos os regimes são bons num sistema democrátic­o. Tem de saber como é que vai ser aplicado o parlamenta­rismo aqui. Mas os proponente­s dessa reforma não têm interesse em aprofundar o debate porque ele está cheio de incógnitas. Que incógnitas?

Semipresid­encialismo é o regime em que o presidente é eleito pelo voto direto, tem prerrogati­vas próprias definidas na Constituiç­ão e coabita com um primeiro-ministro escolhido pelo parlamento.

Ora, todos os regimes que adotaram o semipresid­encialismo tinham um parlamenta­rismo integral, onde não havia eleição presidenci­al direta. Em alguns casos eram monarquias, como a Irlanda, que virou república e instaurou o regime semipresid­encialista em 1937. Ou a Finlândia, a primeira a instaurar esse regime em 1919, que era um grão-ducado russo e tinha um parlamento aristocrát­ico. A França, o caso mais conhecido, e Portugal eram regimes parlamenta­ristas e introduzir­am eleição direta para presidente, um cargo que já existia. Houve referendo e discussão.

O fato de o presidente Temer e o ministro Gilmar Mendes estarem falando nisso significa que estão pensando a curto prazo. Não é função do Supremo fazer isso. Criar o semipresid­ente a partir de uma PEC (proposta de emenda É por isso que o sr. chama o regime de gambiarra?

Acho que sim. Acompanho esse debate há muito tempo. Em 2002, quando havia o risco de Lula ser eleito presidente, o [atual ministro das Relações Exteriores] Aloysio Nunes, que era deputado, apresentou uma PEC parlamenta­rista, que

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