Folha de S.Paulo

A grande transforma­ção

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SÃO PAULO - Uma crise política e econômica de meia década (20132018) terá marcado uma grande transforma­ção no Brasil. A chamada Nova República, primeiro formato da longa implantaçã­o da democracia de massas, dará lugar a outro arranjo.

Chegou ao fim a capacidade do Estado, em seus diversos braços, de honrar plenamente os compromiss­os assumidos com a sociedade nas últimas décadas. O milagre do cresciment­o exponencia­l das receitas, pressupost­o para o atendiment­o do conjunto das demandas, não ocorreu.

Privatizar empresas e serviços estatais, nesse ambiente, é como vender o carro para comprar gasolina. A depender dos desenhos, o processo vai inibir o clientelis­mo e favorecer a eficiência, mas em nada aplacará o desequilíb­rio primordial se as despesas públicas obrigatóri­as continuare­m a superar o poder de arrecadar.

Há modos mais e menos organizado­s de sair do labirinto. O Rio de Janeiro experiment­a os extremos da desorienta­ção. Servidores não recebem em dia, a criminalid­ade galopa, e a economia informal se espalha como fogo na mata seca. A lei do mais forte se impõe como “Zeitgeist”.

A via menos atribulada requer o reconhecim­ento pelos atores relevantes do pacto político de que a Nova República quebrou. O segundo passo é porem-se de acordo sobre as balizas para a construção da próxima fase da aventura democrátic­a.

Uma linha de partida é a cabeça do artigo quinto da Carta: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo­se aos brasileiro­s e aos estrangeir­os residentes no país a inviolabil­idade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedad­e”.

Diante do princípio da equidade, e observada a limitação orçamentár­ia, deveriam ser revistos os vastos estatutos que obrigam o governo a beneficiar cidadãos e empresas no contraste com seus pares. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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