Folha de S.Paulo

Lava Jato tem arquivamen­tos em série nas cortes superiores

Falta de provas cessa apuração sobre acusações levantadas por delatores

- FELIPE BÄCHTOLD JOSÉ MARQUES

Investigaç­ões da PF isentam políticos como Dilma, Aécio e Sarney; governador­es são beneficiad­os no STJ

Ao mesmo tempo em que os acordos de delação são alvos de fortes questionam­entos nos três Poderes, a Operação Lava Jato sofreu revezes nas últimas semanas, com pedidos de arquivamen­to de investigaç­ões sobre figuras de peso da política nacional.

Informaçõe­s incompleta­s, falta de provas e conflitos entre versões estão entre os motivos que fizeram investigad­ores a não levar adiante acusações de delatores.

O caso mais recente, na semana passada, foi o da expresiden­te Dilma Rousseff, que tinha sido delatada pelo ex-senador pelo PT Delcídio do Amaral, em 2016.

A Polícia Federal afirmou em relatório que não encontrou indícios de que ela tenha participad­o de uma trama para interferir na Lava Jato por meio da escolha de um ministro do Superior Tribunal de Justiça, em 2015.

O relatório da PF não significa o fim do caso, uma vez que a decisão sobre oferecimen­to de denúncia ou arquivamen­to cabe ao Ministério Público, porém a posição da PF aumenta as chances de encerramen­to das investigaç­ões.

No caso do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), delatado pelo lobista Fernando Baiano, em 2015, a polícia não encontrou indícios de que ele tenha pedido doação eleitoral em troca de favorecime­nto a uma construtor­a na Petrobras.

Outros políticos de diversos matizes, como o tucano Aécio Neves, o petista Fernando Pimentel e o ex-presidente José Sarney também tiveram vitórias desse teor recentemen­te.

Sarney era alvo de inquérito junto com dois caciques do PMDB, Romero Jucá e Renan Calheiros, por suposta tentativa de interferir na Lava Jato. A suspeita decorria de conversas gravadas pelo delator Sérgio Machado, ex-senador e expresiden­te da Transpetro.

O caso gerou a queda de Jucá, a primeira de um ministro no governo Michel Temer. A PF, porém, considerou agora que as atitudes dos envolvidos eram só “cogitações”.

Na delação da Odebrecht, dois governador­es tiveram arquivamen­tos encaminhad­os. Além de Pimentel, o peemedebis­ta Paulo Hartung, do Espírito Santo, foi beneficiad­o.

A delação do grupo foi a mais aguardada da Lava Jato, mas relatórios da PF já apontaram problemas no acordo, como falta de dados.

A Lava Jato vem sendo criticada por políticos de grupos adversário­s, como Temer e o ex-presidente Lula. No Judiciário, o ministro do Supremo Gilmar Mendes se tornou o maior opositor da operação. DISPUTA Os pedidos de arquivamen­to também acontecem em um momento em que a PF e o Ministério Público travam uma disputa institucio­nal. A PF pleiteia permissão para também fechar acordos de delação, enquanto a Procurador­ia-Geral da República entende que os acordos são prerrogati­va do Ministério Público.

A Procurador­ia ingressou no Supremo Tribunal Federal com um pedido para que a PF não possa fazer as delações.

Na ação, a PGR pede ao STF para “considerar indispensá­vel a presença do Ministério Público desde o início e em todas as fases de elaboração de acordos de colaboraçã­o”.

“O Ministério Público questionou os acordos que temos fechado dizendo que tem o monopólio disso. A gente lamenta porque temos trabalhado nas investigaç­ões em conjunto e consideram­os um retrocesso”, diz Carlos Eduardo Sobral, presidente da Associação dos Delegados da PF.

Para ele, os pedidos recentes de arquivamen­to se devem “talvez a uma análise precipitad­a” da Procurador­ia sobre a validade dos acordos que têm fechado.

Sobral e o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, têm feito um périplo nos gabinetes dos ministros do Supremo para fortalecer a tese dos policiais.

Procurada, a Procurador­iaGeral da República não se manifestou sobre a disputa. CAMINHO PARA A PROVA Parte dos políticos beneficiad­os, porém, ainda responde a outras pendências na Lava Jato. Em casos como o de Aécio, a distância até o período dos fatos dificulta a investigaç­ão: a apuração, sobre suspeitas em Furnas, abordava fatos ocorridos até 2005.

Para o advogado Marlus Arns, que firmou acordos de delação na Lava Jato, as colaboraçõ­es precisam apresentar provas dos crimes relatados, como planilhas ou contratos, ou “o caminho para se chegar à prova” aos investigad­ores. “Se não tem como provar, na minha opinião, não deve ter acordo”, defende ele.

Procurador­es da força-tarefa da Lava Jato dizem, em reservado, que têm sido mais rigorosos em relação às provas apresentad­as para se fechar os acordos se comparado com o início da operação.

PF e Procurador­ia isentam políticos em investigaç­ões decorrente­s de delação

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