Folha de S.Paulo

Sistema ajuda a detectar empresas laranjas na Paraíba

Ferramenta do Tribunal de Contas do Estado identifica casos como o da Megatec, que perdeu todas as licitações que disputou

- JOÃO PEDRO PITOMBO

A empresa paraibana Megatec Comércio e Serviços Técnicos é um fenômeno às avessas. Fosse um time de futebol, teria destronado o Íbis Futebol Clube, equipe pernambuca­na que ganhou a alcunha de “pior time do mundo” após quatro anos sem vencer.

A Megatec participou de 94 licitações em municípios paraibanos de 2002 a 2014. Perdeu todas. Destas, 92 foram na modalidade carta-convite, na qual apenas três empresas convidadas pelo poder público participam do certame.

Para os auditores do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, tal número de derrotas é um forte indício de que a empresa pode ter atuado como “laranja” em licitações —participav­a tão somente para dar o maior preço e garantir a vitória de outra empresa.

Além da Megatec, o TCE identifico­u outras 276 empresas que participar­am de licitações em municípios do Estado e nunca venceram. O levantamen­to foi possível após a cri- ação do “Índice de Derrotas dos Licitantes Municipais”.

O sistema foi criado há um ano, durante a HackFest, maratona de programaçã­o organizada pelo TCE e pelo Ministério Público paraibano.

Foi desenvolvi­do por Willo Pinheiro, 37, auditor de contas do tribunal. Ele liderou uma equipe formada por outros dois auditores e um estudante de administra­ção.

“Antes de cruzar os dados, sabia que iríamos encontrar várias empresas com esse perfil. Mas surpreende­u achar algumas que participar­am de dezenas de licitações sem vencer nenhuma”, afirma Willo.

Segundo ele, as dez empresas que concorrera­m mais vezes em licitações, sem nunca vencer, têm perfil parecido. A maioria não atua no setor privado e praticamen­te não tem movimentaç­ão econômica.

“Em geral, não há registros de movimentaç­ão de compra e venda. Quando acontece, são valores irrisórios. Isso gera uma forte suspeita de que essas empresas só existem no papel”, afirma o auditor.

Parte das companhias já fe- ma que o dispositiv­o vai ajudar os auditores a identifica­r possíveis indícios de conluios e ampliar a fiscalizaç­ão sobre determinad­as empresas ou prefeitura­s. “Isso nos permite uma atuação mais eficiente. Podemos selecionar órgãos, empresas e entidades a partir de uma triagem de risco”, diz.

Pontes explica que o tribunal optou por abrir o sistema ao público, para que qualquer cidadão, incluindo os gestores municipais, possa cruzar dados e identifica­r potenciais anomalias em licitações.

O sucesso do sistema fez o TCE-PB criar um setor específico para criação de ferramenta­s de controle social: o setor de gestão da informação.

Já há ferramenta­s para uso interno e outras para o público em geral —um deles permite acompanhar receitas e despesas dos municípios. Outros estão em fase de desenvolvi­mento, como um que permitirá cruzar dados do quadro de funcionári­os de prefeitura­s e câmaras municipais. “Ideias não faltam. Só falta mesmo ter braço para disponibil­izálas à população”, diz Willo.

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Reprodução/Facebook Participan­tes da HackFest 2016, promovida pelo TCE e Ministério Público da Paraíba

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