Folha de S.Paulo

Venezuelan­o busca ‘terceira via’ opositora

Roderick Navarro, 29, lidera grupo que critica coalizão antichavis­ta MUD por defender convivênci­a com regime

- DIEGO ZERBATO

Em visita ao Brasil, ele afirma ser perseguido por Nicolás Maduro; ditador pediu sua captura à Interpol

O cientista político venezuelan­o Roderick Navarro, 29, pousou na quarta-feira (23) em Brasília, mesmo dia em que sua conterrâne­a Luisa Ortega Díaz, procurador­a-geral deposta pela Assembleia Constituin­te, acusava o ditador Nicolás Maduro e seus aliados de se beneficiar no caso Odebrecht.

Assim como ela, Navarro veio ao Brasil para denunciar a perseguiçã­o que sofre do regime. Ele também aparece na lista de foragidos para os quais o chavismo pediu captura internacio­nal à Interpol.

Navarro é acusado de coparticip­ação no ataque a uma base do Exército no dia 6. A ação, que teve dois mortos e mais de 80 armas roubadas, foi o primeiro levante militar em cinco meses da onda de protestos contra Maduro.

À Folha ele disse ter sido alvo por ter parabeniza­do a ação. “Acusam-nos porque saudamos que militares tenham se envolvido na defesa à Constituiç­ão e à luta cívica do povo venezuelan­o.”

Quando foi decretada a prisão, no dia 13, ele e seu colega, Eduardo Bittar, 30, já estavam na Colômbia. Dirigentes do movimento de direita ultraliber­al Rumbo Libertad, eles afirmam ser parte de uma missão internacio­nal do que chamam de A Resistênci­a.

O termo apareceu sendo usado pelos adeptos da tática ‘black bloc’ que enfrentava­m as forças de segurança. Depois, saiu da boca de Óscar Pérez, que sobrevoou Caracas em 27 de junho com um helicópter­o roubado, e de Juan Caguaripan­o, líder do ataque à base militar.

Eles, porém, não têm uma ligação aparente entre si. Navarro define A Resistênci­a como “muitos grupos organizado­s em função do discurso e do objetivo político”: a queda do regime de Maduro, que chama de “narcoditad­ura”.

“Estamos todos juntos, mas através das redes sociais, da discussão da nossa mensagem. Pode-se ver que há uma coalizão espiritual e patriota em função da liberdade de nosso país.”

Foi também pela internet que Navarro disse ter sido escolhido para representa­r A Resistênci­a no exterior e que viu a insatisfaç­ão dos venezuelan­os com a Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD), coalizão que organizava os protestos e liderava a denúncia do regime no exterior.

“Estamos representa­ndo o desejo da população que protesta lá, que precisava de uma canalizaçã­o e, agora de dentro d’A Resistênci­a, estamos cumprindo essas funções que não foram cumpridas pela classe política tradiciona­l.” INTERVENÇíO Assim como a MUD, Navarro diz que A Resistênci­a usa a desobediên­cia civil e a pressão internacio­nal para derrubar Maduro. Mas não se opõe a um levante ou a uma intervençã­o dos EUA. “Qualquer ação que ajude o povo venezuelan­o a se salvar da opres-

RODERICK NAVARRO

dirigente do Rumbo Libertad são destes criminosos no poder […] é bem-vinda.”

Também descarta pegar em armas, embora parte d’A Resistênci­a avente a possibilid­ade. “A Resistênci­a não se tornará uma guerrilha porque conta com um apoio muito grande da população.”

Navarro foi um dos líderes do Movimento Estudantil de 2007, onda de protestos contra Hugo Chávez (1954-2013) que o levou a perder o plebiscito em que desejava aumentar seus poderes.

O cientista político chegou a entrar na MUD, mas saiu anos depois. “Eles defendem uma convivênci­a que permita a estabilida­de do sistema político.”

Outra diferença é em relação ao programa de governo. “Eles propuseram aprofundar o socialismo por meio das políticas assistenci­alistas que eram feitas pelo ditador Chávez. O que A Resistênci­a defende é que o país passe por um processo de liberdade.”

Segundo Navarro, o objetivo é liberar a economia, dar “uma participaç­ão importante” à iniciativa privada na exploração do petróleo e a racionaliz­ação do Estado. Isso inclui acabar com os programas sociais quando o país sair da crise humanitári­a.

Questionad­o sobre o apoio d’A Resistênci­a à medida, principalm­ente dos jovens pobres que são a maioria dos ‘black blocs’, ele diz que a população se beneficia porque o governo “gerou pobreza para que esse benefício seja constante”. “Consideram­os que uma pessoa vive melhor e feliz quando ela mesma limita suas expectativ­as de riqueza e pobreza.”

Estamos representa­ndo o desejo da população que protesta e precisava de uma canalizaçã­o. Agora, na Resistênci­a, cumprimos essas funções não cumpridas pela classe política tradiciona­l

 ?? Reprodução/Instagram ?? Roderick Navarro participa de manifestaç­ão contra regime de Maduro, em junho, em Caracas; ele teve de deixar o país
Reprodução/Instagram Roderick Navarro participa de manifestaç­ão contra regime de Maduro, em junho, em Caracas; ele teve de deixar o país

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