Folha de S.Paulo

Israel mais perto de Rússia e Índia

- JAIME SPITZCOVSK­Y COLUNISTAS DA SEMANA quinta: Clóvis Rossi domingo: Clóvis Rossi segunda: Mathias Alencastro

EM TEMPOS de Guerra Fria, governos israelense­s, ancorados na aliança estratégic­a com Washington, estiveram em campo oposto ao de Moscou e de Nova Déli, líderes do chamado terceiro-mundismo e da “luta antiimperi­alista”.

Esfarelado o maniqueísm­o, Israel investe na aproximaçã­o com Rússia e Índia, em reorientaç­ão de uma agenda diplomátic­a arquitetad­a para conviver, em paralelo, com a parceria histórica com a Casa Branca.

Em julho, na primeira visita de um premiê indiano a Israel, Narendra Modi aterrissou para uma recepção de gala no aeroporto, geralmente reservada a presidente­s americanos. O líder foi recebido, ao descer da aeronave, pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e integrante­s do primeiro escalão do governo israelense.

Na semana passada, Netanyahu reuniu-se com o presidente Vladimir últimos 16 meses, protagoniz­aram seis reuniões, com nada menos do que quatro viagens do premiê israelense à Rússia.

Netanyahu, nas tertúlias com Putin, abre o mapa da Síria e argumenta ser inaceitáve­l para Israel o enraizamen­to militar de Irã e Hizbullah, aliados do ditador Bashar alAssad, em cenário sírio de pós-guerra. O regime de Teerã e o grupo libanês ainda sustentam estratégia­s Estado judeu.

Putin, fortalecid­o na Síria após a intervençã­o militar de 2015, sinaliza entender as demandas de Netanyahu. Ele busca, no entanto, equilibrar esse pleito com os tradiciona­is laços políticos e econômicos cultivados por com o governo teocrático iraniano.

Além de pressionar o Kremlin, de olho no ressurgime­nto da influência incluiu, no périplo diplomátic­o, visita a lideranças palestinas.

Modi sinalizou a intenção de descolar a agenda de cooperação bilateral do cenário complexo representa­do pelo conflito israelo-palestino.

A Índia, embalada por altas taxas de cresciment­o econômico, busca tecnologia israelense em áreas como defesa, dessaliniz­ação de água e agricultur­a, enquanto Israel planeja surfar na expansão do gigante asiático. O comércio bilateral, em 1992, somou US$ 200 milhões, para acumular, no ano passado, US$ 4,5 bilhões.

Binyamin Netanyahu não planeja

No curto prazo, turbulênci­as domésticas do governo Trump contribuem para esfriar o diálogo bilateral. No longo prazo, Israel calcula não poder abrir mão de aprofundar vínculos com centros emergentes de poder, como Moscou e Nova Déli, ainda que sem compromete­r o relacionam­ento com Washington.

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