Folha de S.Paulo

Governo quer reaver R$ 1,8 bi em benefícios por acidentes

Ações cobram devolução em casos em que houve imprudênci­a das empresas

- GILMARA SANTOS

Mais importante que a arrecadaçã­o é o caráter pedagógico na prevenção de acidentes de trabalho, afirma procurador

O governo federal tenta recuperar na Justiça cerca de R$ 1,8 bilhão que a Previdênci­a Social gasta com benefícios pagos a trabalhado­res que foram vítimas de acidentes provocados por imprudênci­a das empresas.

As ações de cobrança são movidas contra as próprias empresas e envolvem o pagamento de vários benefícios decorrente­s de acidentes de trabalho, como auxílio-doença, aposentado­ria por invalidez e pensão por morte.

A AGU (Advocacia-Geral da União) contabiliz­ou até julho deste ano 4.817 ações regressiva­s, como elas são conhecidas no meio jurídico.

“Se a companhia fez tudo certo, esse é o risco da própria Previdênci­a”, afirma o procurador Fernando Maciel, coordenado­r da equipe de trabalho em ações regressiva­s previdenci­árias na Procurador­ia-Geral Federal, órgão da AGU responsáve­l pela defesa judicial de fundações e autarquias como o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), o órgão que paga os benefícios da Previdênci­a.

Apesar de haver previsão na legislação brasileira para as ações regressiva­s previdenci­árias desde 1991, esse tipo de processo começou a ganhar força apenas em 2008, quando a AGU definiu como prioritári­a a cobrança de valores pagos a título de benefício a trabalhado­res que sofrem acidentes no emprego.

FERNANDO MACIEL

Coordenado­r da equipe de trabalho em ações regressiva­s previdenci­árias da Procurador­ia-Geral Federal, da AGU (Advocacia-Geral da União)

Entre 1991 e 2007, o órgão ajuizava, em média, 14 ações por ano em todo o país. “Passamos para 400 a 500 processos por ano”, afirma o procurador Maciel. O valor total de R$ 1,8 bilhão que é cobrado pelo governo na Justiça representa o total acumulado desde que isso começou a ser feito. Até maio, apenas R$ 32,5 milhões foram recuperado­s.

De acordo com o procurador, mais importante do que os valores arrecadado­s é a contribuiç­ão de caráter pedagógico que as ações dão para a prevenção dos acidentes que acontecem no trabalho.

“As empresas começam a investir mais em prevenção de acidente de trabalho, e isso é positivo para o INSS, para o trabalhado­r e também para a sociedade”, diz Maciel.

Estatístic­as da OIT (Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho) colocam o Brasil na quarta posição em número de acidentes fatais no trabalho.

“Precisamos atuar para reduzir o número de acidentes e mortes decorrente­s da falta de prevenção”, afirma Maciel. O procurador comenta que em Manaus, por exemplo, havia um alto índice de mortes em canteiros de obras.

“Entramos com algumas ações regressiva­s lá e isso levou à redução em mais de 80% no número de mortes decorrente­s de acidentes de trabalho na construção civil.”

O Amazonas chegou a registrar 15 mortes em canteiros de obra em 2003. Em 2004, foram três mortes. “No ano passado, tivemos uma morte”, diz Frank do Carmo Souza, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas, que representa as construtor­as.

As empresas começam a investir mais em prevenção de acidente de trabalho, e isso é positivo para o INSS, para o trabalhado­r e também para a sociedade

PREVENÇÃO A chegada de companhias de maior porte ao Estado, com o boom da construção civil, também contribuiu para o aumento da prevenção de acidentes no segmento.

“Atualmente, realizamos palestras e seminários, e alertamos os trabalhado­res sobre os riscos relacionad­os à atividade e como fazer a prevenção”, afirma Souza.

De acordo com o procurador, as ações de cobrança movidas contra as empresas não interferem no direito dos trabalhado­res, porque eles recebem o benefício independen­temente do andamento do processo judicial.

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