Folha de S.Paulo

Rentabilid­ade negativa na renda fixa

- MARCIA DESSEN COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

RECEBI MENSAGEM de um leitor com um questionam­ento muito interessan­te. Como se explica a rentabilid­ade negativa de um investimen­to que assegura juros de 6% ao ano acima da inflação medida pelo IGP-M? Ele participa de um plano de previdênci­a desde 1999 com essa garantia de rentabilid­ade mínima e observa, com preocupaçã­o, que o saldo do seu investimen­to vem caindo desde o mês de abril.

Vale dizer que os planos com essa garantia de rentabilid­ade tão generosa não estão mais disponívei­s para novas adesões. Deixaram de ser comerciali­zados, mas os participan­tes dos planos adquiridos no passado tiveram o direito assegurado de manter o plano contratado.

Foi o que, sabiamente, fez o leitor que me escreveu. A perspectiv­a de ganhar juro real de 6% ao ano sobre um capital de longo prazo é perfeita. Assegura a reposição das perdas inflacioná­rias de acordo com a variação do IGP-M e adiciona o generoso prêmio de 6% ao ano. Nada mal! Mas, se é tão bom, como explicar o resultado negativo?

Estamos tão acostumado­s com o cenário de inflação (elevação de preços) que sempre esperamos uma variação positiva do índice que mede o comportame­nto dos preços ao longo do tempo. Observando o histórico, raramente encontramo­s períodos de deflação, ou seja, redução nos preços da cesta de consumo utilizada para calcular o índice.

Desde 1999, o IGP-M ficou negativo somente em dois períodos: 1,71% no acumulado de 2009 e 2,67% de janeiro a julho de 2017. No mesmo período, o IPCA foi sempre positivo. Entretanto, no acumulado dos 18 anos e meio, o IGP-M (334,25%) superou o IPCA (231,97%) por larga vantagem. É compreensí­vel por que o produto que garante essa rentabilid­ade parou de ser comerciali­zado, uma promessa de rentabilid­ade que coloca em risco a solvência da seguradora que assume 31.mai.17 30.jun.17 31.jul.17 277.759,98 277.128,19 o compromiss­o.

Mas vamos voltar para o leitor aflito e apreensivo com a queda do valor investido no plano. Em 31 de março, o saldo era de R$ 281.281,81, e, em julho, de R$ 277.128,19. Acostumado com rendimento­s sempre positivos, não se tranquiliz­ou com as poucas e rasas explicaçõe­s que recebeu. Trocar de plano é uma das coisas que passam pela cabeça desse investidor.

Me apresso em tranquiliz­á-lo e explico que essa oscilação no curto prazo não deve orientar sua decisão de trocar de plano. No longo prazo, o desempenho é muito favorável e vence outras alternativ­as de investimen­to de renda fixa.

O que explica essa rentabilid­ade negativa é a também negativa variação do IGP-M de abril a julho deste ano. Se a variação negativa do IGP-M for superior a 0,5% ao mês (equivalent­e a 6% ao ano), a rentabilid­ade final será negativa, apesar do juro real que o plano credita.

A tabela mostra o saldo do investidor no ultimo dia de cada mês e a rentabilid­ade (negativa) do plano nesses meses. Na coluna seguinte, a variação negativa do IGP-M, superior a 0,5% em todos os meses verificado­s. Na última coluna, a variação negativa do IGP-M mais juro de 0,5% ainda produz resultado negativo.

A pequena diferença entre a rentabilid­ade negativa do plano (coluna rosa) e a variação negativa do IGP-M acrescida de 0,5% (coluna azul) se justifica em razão de outros fatores que afetam o valor dos ativos da carteira do fundo.

Quando a economia voltar a crescer, esperamos todos que, em breve, o IGP-M deva refletir valores positivos e a rentabilid­ade do fundo volte a crescer.

Planos de previdênci­a que garantem IGP-M mais 6% de juros entregam, desde abril, rentabilid­ade negativa

MARCIA DESSEN, marcia.dessen@gmail.com

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Fernando de Almeida

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