Folha de S.Paulo

A tolice do cobre

Decidida sem os cuidados necessário­s, extinção de reserva mineral na Amazônia provoca reação negativa exagerada na opinião pública

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O governo de Michel Temer (PMDB), em seu afã de fabricar boas novas para estimular a economia, cometeu erros primários na extinção da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca). Como dividendos, colheu apenas uma enorme —e exagerada— reação negativa na opinião pública.

Com a ajuda de celebridad­es, espalhou-se o rastilho de indignação com o suposto “leilão” da Amazônia para a iniciativa privada. Um juiz federal se apressou a suspender o decreto presidenci­al, nesta quarta-feira (30), por entender que faltou ouvir o Congresso.

O Planalto se viu acusado de liberar para destruição uma área preservada de floresta amazônica do tamanho do Espírito Santo.

A Renca nunca foi uma reserva ambiental, mas sim mineral. Cria- da por decreto em 1984, no período militar, objetivava manter controle estatal sobre depósitos de cobre, tântalo, ouro e outros metais.

Pode ter ajudado a coibir o desmatamen­to na região, mas não foi tão eficiente: há nela cerca de mil garimpeiro­s ilegais e 28 pistas de pouso clandestin­as, segundo o Ministério de Minas e Energia.

A área coincide com a de nove unidades de conservaçã­o (UCs), criadas após a declaração da Renca. O decreto original de Temer ressalvava que prevalecer­ia a legislação ambiental incidente, mas não cuidou de consultar, antes de baixá-lo, a pasta do Meio Ambiente.

Uma secretaria do ministério havia preparado, em 2016, nota técnica contrária ao fim da Renca, por considerar que estimulari­a influxo populacion­al e desmatamen­to. Só após a onda de protestos o ministro Sarney Filho (PV) foi chamado para ajudar a apagar o incêndio.

O Planalto produziu então outro decreto, explicitan­do salvaguard­as ambientais. O texto esclarece, por exemplo, que por ora não estarão previstas novas atividades de pesquisa e lavra dentro das UCs.

Em termos formais, a extinção não parece tão ameaçadora quanto se alardeou. Seria ingênuo, contudo, considerar inócua a medida.

O governo Temer tem patrocinad­o vários retrocesso­s na regulament­ação ambiental. Além disso, a crise orçamentár­ia no setor público reduziu sobremanei­ra sua capacidade de fiscalizar abusos.

O Planalto reincide no equívoco palmar de lançar medidas controvers­as sobre questões complexas, de afogadilho e sem os devidos esclarecim­entos à sociedade.

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