Folha de S.Paulo

Canções de protesto

-

RIO DE JANEIRO - Desde as jornadas de junho de 2013, a classe artística vem gradativam­ente ampliando sua participaç­ão no debate político e social do país, indo às ruas, à internet e aos palcos para se manifestar. Faltava, no entanto, transforma­r isso em arte. Não mais.

Três lançamento­s recentes mostram que, ao menos na música, os tempos agitados por que passa o Brasil voltaram a servir de inspiração. O caso mais comentado foi o de Chico Buarque, cujo novo disco, “Caravanas”, traz o que vem sendo considerad­a, muito justamente, sua melhor canção neste século: “As Caravanas”.

Se a complexida­de lírica e melódica da composição, com suas inúmeras citações e referência­s, demanda uma enciclopéd­ia para ser decifrada, a letra é suficiente­mente direta ao criticar “a gente ordeira e virtuosa que apela pra polícia despachar de volta o populacho pra favela”.

O álbum traz ainda “Desaforos”, queoautord­isseser“sobrecoisa­sque acontecem nos restaurant­es e nas ruas”, aludindo às agressões que sofre por conta de suas posições políticas.

No mesmo dia do disco de Chico, os Tribalista­s lançaram seu segundo trabalho. Entre canções de amor, o trio formado por Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte incluiu duas de temática atual.

“Diáspora” conversa em certo nível com “As Caravanas”, ao tratar de imigrantes e refugiados, ainda que sem a mesma amplitude e profundida­de do texto buarquiano. “Lutar e Vencer” trata das ocupações de escolas pelos estudantes. “Somos emergência de revolução / temos consciênci­a e educação”, diz um trecho da letra.

Por fim, surgiu um samba-enredo de Tantinho da Mangueira e parceiros, concorrent­e ao desfile de 2018 da escola, que é a mais afiada crítica feita no gênero em anos. Crivella e sua perseguiçã­o ao Carnaval, a liga dos bicheiros e sua comerciali­zação excessiva da folia, está tudo ali. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil