Folha de S.Paulo

Xeque norte-coreano

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Kim Jong-un, o ditador da Coreia do Norte, continua movimentan­do-se no jogo nuclear com desenvoltu­ra. Ao testar nesta semana mais um míssil de médio alcance, que sobrevoou o território do Japão antes de mergulhar no oceano Pacífico, colocou Washington numa posição desconfort­ável.

Afinal, não há resposta contundent­e que os Estados Unidos possam apresentar que não gere um perigoso aumento das tensões naquele pedaço do planeta.

Apesar de ambos os lados abusarem da retórica inflamada, o pressupost­o básico ainda é o de que nenhum deles deseja um conflito militar, mesmo que limitado a armas convencion­ais.

Kim Jong-un sabe que nunca sairia vitorioso de tal embate; Donald Trump tampouco ignora que, se a crise evoluir para uma guerra, a Coreia do Norte tem capacidade para atacar de pronto a do Sul, o que poderia resultar em um número incalculáv­el de baixas civis.

No teste desta semana, Kim não lançou o míssil em direção a Guam (território americano no Pacífico) como insinuara que faria. Tal manobra praticamen­te forçaria Trump a acirrar o discurso de confronto.

Ao visar o Japão, o ditador demonstra que tem condições de atingir áreas e tropas dos Estados Unidos, sem colocar-se em posição de sofrer um ataque inevitável.

Trump parece ter sentido o golpe —tanto que, pelo menos até aqui, evitou fazer comentário­s em redes sociais e preferiu reagir por meio de forte, mas sóbria, nota oficial.

A esta altura, a menos que os EUA estejam dispostos a encarar os riscos de uma ação militar maciça, parece não haver meios de evitar que a Coreia do Norte se consolide como país com poderio nuclear.

A chave óbvia para quaisquer ações diplomátic­as é a China, única aliada e sustentácu­lo econômico do regime de Kim Jong-un.

Se Pequim não tem nenhum interesse em ver a dinastia Kim derrotada —e uma Coreia reunificad­a sob os auspícios do Ocidente fazendo-lhe fronteira—, tampouco desejará uma corrida armamentis­ta na região. Um Japão nucleariza­do é das hipóteses que mais assustam os chineses.

“Todas as opções estão sobre a mesa”, conforme disse o comunicado de Trump. “Mas a diplomacia ainda está no topo delas”, emendou, felizmente, o Pentágono.

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