Folha de S.Paulo

Ex-ministro recebeu R$ 7 mi em espécie, afirma Funaro

Corretor diz ter usado avião do grupo Bertin para levar o dinheiro a Natal

- BELA MEGALE LETÍCIA CASADO TALITA FERNANDES

Edson Fachin, do STF, devolveu os termos da delação do corretor à Procurador­ia para que sejam feitos ajustes

O corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de políticos do PMDB, afirmou, em acordo de delação, que intermedio­u o repasse de R$ 7 milhões em espécie para a campanha do ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB) ao governo do Rio Grande do Norte em 2014.

O montante foi enviado, segundo o delator, por Joesley Batista, dono do grupo J&F, controlado­r da JBS.

Alves e Funaro estão presos. O primeiro se encontra detido em Natal e o segundo em Brasília.

O operador assinou na semana passada delação premiada com a Procurador­iaGeral da República e aguarda que o acordo seja homologado pelo ministro Edson Fachin, relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo envolvidos nas tratativas, Funaro relatou que usou um avião do grupo Bertin para transporta­r o dinheiro a Natal.

O montante, segundo ele, foi entregue para um assessor de Henrique Alves no Hotel Ocean, na praia de Ponta Negra, na capital.

O operador contou ainda, de acordo com apuração da Folha, que estava acompanhad­o da namorada à época.

Documentos apreendido­s na busca e apreensão na casa da irmã de Funaro, Roberta, durante a operação Patmos, deflagrada em 18 de maio, também trazem detalhes sobre essa entrega em uma planilha de controle do próprio operador.

A planilha faz parte dos documentos que corroboram a delação premiada, segundo investigad­ores.

Roberta, que chegou a ser levada para a prisão, cumpre prisão domiciliar com tornozelei­ra eletrônica. RECURSOS Na negociação do seu acordo, Funaro relatou que tinha liberdade para usar o avião dos Bertin devido à proximidad­e adquirida ao fazer trabalhos como a liberação de recursos da Caixa Econômica Federal para negócios do grupo.

Esse não é o primeiro relato de Funaro sobre entrega de propina a políticos usando jatos particular­es.

Em depoimento à Polícia Federal em julho, ele afirmou que “fez várias viagens em seu avião ou em voos fretados para entregar malas de dinheiro para [o ex-ministro] Geddel Vieira Lima”.

Relatou que os repasses aconteciam na sala vip do hangar Aerostar, no aeroporto de Salvador, diretament­e para Geddel.

Detalhou que em duas viagens ao Nordeste, uma para Trancoso (BA) e outra para Barra de São Miguel (AL), realizou paradas em Salvador “para entregar malas ou sacolas de dinheiro para Geddel Vieira Lima”.

Quando o depoimento veio a público, a defesa do ex-ministro negou que ele tenha recebido dinheiro de Funaro.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pretende acrescenta­r trechos da colaboraçã­o de Funaro a uma nova denúncia contra o pre- para a PGR. Teori determinou que a Procurador­ia fizesse ajustes em ao menos duas tratativas: a do ex-senador Delcídio do Amaral e a do ex-deputado Pedro Corrêa.

Quando o material voltar para o STF, o ministro vai analisar novamente se as cláusulas estão corretas.

Fachin ainda ouvirá o delator em audiência para saber se não foi coagido a falar.

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