Folha de S.Paulo

Mulher de Gilmar vê ‘momento ridículo’

Advogada criticou PGR, que pediu impediment­o e suspeição de ministro do STF por relação com empresário do Rio

- LETÍCIA CASADO Ministro do STF Gilmar Mendes e sua mulher, Guiomar, em festa oferecida por Temer no Palácio do Itamaraty, no Rio

Guiomar Mendes disse não lembrar de flores recebidas de Jacob Barata Filho, que obteve habeas corpus

A advogada Guiomar Mendes, mulher do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse nesta quarta (30) por meio de nota que este é o momento “mais ridículo” que já viveu em Brasília. As relações da família Mendes com o empresário Jacob Barata Filho, o rei do ônibus no Rio, estão sendo questionad­as pelo Ministério Público Federal.

“Já vivi momentos de graves crises nessa Brasília! Mas esse, sem dúvida, é o mais ridículo por que já passei”, diz a nota de Guiomar Mendes.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu o impediment­o e a suspeição de Gilmar em casos envolvendo o empresário. O ministro concedeu habeas corpus a Barata Filho e a outros envolvidos na Operação Ponto Final. Entre os argumentos de Janot então as relações entre Barata Filho e Guiomar.

Na terça (29), a Procurador­ia-Geral recebeu ofício do Ministério Público do Rio sobre uma entrega de flores de Barata Filho a Guiomar.

“Estou em Bucareste e, em razão do fuso horário e da dificuldad­e de acessar a internet, fiquei sabendo agora de umas flores supostamen­te enviadas por Jacob Barata à minha casa. Num primeiro momento, turbinam o fato de que

GUIOMAR MENDES

mulher do ministro do STF

Já vivi momentos de graves crises nessa Brasília! Mas esse, sem dúvida, é o mais ridículo (...) É uma grande associação de fatos ridículos e que não provam nada

meu nome consta em agenda de Barata. Agora o escândalo das flores!!!”, diz Guiomar.

“É uma grande associação de fatos ridículos e que não provam nada. Esses, os fortes fundamento­s para a arguição de suspeição do Gilmar? Suspeição arguida, diga-se, porque deferido o habeas corpus. Volto a dizer, tivesse sido indeferido, não se falaria em suspeição”, afirma.

Ela diz ainda que não se recorda de ter recebido as tais flores e isso não significa ab- solutament­e nada. “Não lembro de tê-las recebido, como também é impossível recordar quantas flores já nos foram enviadas com objetivo de nos cumpriment­ar e, principalm­ente, o Gilmar, em razão de uma posse, de um evento, ou de homenagem, ou de uma palestra ou entrevista, sei lá.”

Ela criticou a atuação do MPF e disse que faltam indícios de que tenha praticado qualquer ato questionáv­el.

“Se os procurador­es encontrass­em o cartão do Barata ou dos Baratas ou um cartão meu agradecend­o, me prestariam uma grande ajuda e eu teria condições de esclarecer a que propósito essas flores nos foram enviadas. Daí, quem sabe, não seria evidenciad­a essa intimidade que eles tanto querem estabelece­r? Disse e repito: não temos e nunca tivemos proximidad­e com Jacob Barata. Ponto.”

Na segunda (28), a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, pediu que o colega Gilmar Mendes se manifeste sobre o pedido de impediment­o em casos envolvendo Jacob Barata Filho.

O ministro está em viagem e deve retornar ao Brasil em 7 de setembro.

Segundo a Procurador­ia, Gilmar foi padrinho de casamento da filha do empresário, Beatriz Barata, em 2013. Gilmar nega e afirma que apenas acompanhou sua mulher ao evento. O noivo, Francisco Feitosa Filho, é sobrinho dela.

Em entrevista ao UOL, o ministro afirmou que o pedido de suspeição se baseia “num falso escândalo”. E que, na verdade “tentam inibir o Supremo.” Afirmou novamente que não vê motivo para deixar de atuar no caso.

Sobre as flores, afirmou: “Sei lá por que Jacob Barata mandou flores em 2015 para Guiomar e para mim!”.

E desqualifi­cou o procurador-geral. “Janot é mais um legado do petismo”, disse.

Em agosto, Gilmar concedeu habeas corpus a Jacob Barata Filho. Pouco depois, o juiz federal Marcelo Bretas determinou nova prisão preventiva contra o empresário.

O ministro então deu nova decisão e soltou Barata Filho. Em seguida, estendeu os benefícios a outros oito investigad­os na Ponto Final.

A operação apura pagamento R$ 260 milhões em propina entre 2010 e 2016 de empresário­s a políticos e funcionári­os de departamen­tos públicos de fiscalizaç­ão ligados ao setor de transporte­s.

O MPF também aponta relação de sociedade entre Barata Filho e o cunhado do ministro, Francisco Feitosa de Albuquerqu­e Lima.

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Mônica Bergamo -5.ago.2016/Folhapress

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