Na Presidência, Maia defende ‘novo centro’ com DEM e PC do B
Como presidente interino, deputado foi convidado de honra de congresso de sigla com inspiração marxista
Maia disse que o centro precisa ser o ambiente onde pessoas que pensam diferente consigam dialogar
Os discursos eram dos mais críticos a Michel Temer. Se fosse o titular do Palácio do Planalto, não passaria nem perto do lançamento do 14º Congresso do PC do B, nesta quarta-feira (30), no Salão Nobre da Câmara.
Mas o presidente da República interino, Rodrigo Maia (DEM-RJ), era convidado de honra do evento, e se esforçava para não parecer um estranho no ninho.
Enquanto a presidente do Partido Comunista do Brasil, Luciana Santos, reverberava que o país precisa sair da crise com a constituição de uma ampla frente que lute pelos direitos “dos trabalhadores e do povo”, Maia se apressava em folhear o documento que convidava para o encontro da sigla fundada em 1962, com inspiração marxista.
Ao se aproximar do púlpito, o deputado do Democratas, fundado em 2007 com ideologia de direita, chamou Luciana de “amiga” e evocou um “novo centro”, em que seu partido pode se alinhar ao PC do B para tirar o país da “crise política, ética e econômica”.
“O centro, daqui pra frente, é o ambiente onde pessoas que pensam diferente têm a capacidade de dialogar”, afirmou Maia em um discurso de quase cinco minutos.
A fala é calculada. O uso da expressão, também. O deputado quer ampliar a base parlamentar de seu partido, principalmente com deputados dissidentes do PSB, e estuda mudar o nome do DEM —uma das opções é “centro” ou “centro democrático”.
O objetivo é tentar conquistar o eleitor de centro-direita que, segundo diagnóstico do deputado, ficou órfão com a falta de unidade do PSDB.
O bom trânsito com o PC do B e até mesmo com setores do PT é um importante ativo político de Maia.
Mas quem pareceu não gostar da ideia do “unidos venceremos” foi o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Maia e ele se cumprimentaram timidamente e uma cadeira vazia separou os dois durante o evento.
Foi a chegada de André Fufuca (PP-MA), presidente interino da Câmara e aliado ao governo, que distensionou um pouco o ambiente. Sorridente, ele se sentou entre Siqueira e Maia. De improviso, disse que se sentia “engrandecido” por comparecer a um evento do PC do B, “a fênix da democracia”.
Ficou para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), fazer o discurso mais duro ao governo enquanto Maia ainda estava presente.
A petista lembrou que nesta quinta (31) completa-se um ano do impeachment de Dilma Rousseff e disse que o país não melhorou. Para ela, a união que vai tirar o Brasil da crise é formada por vários partidos, mas somente os “de esquerda e centro-esquerda”.
Não deu espaço para o DEM de Maia, que aplaudiu a petista e saiu mais cedo para terminar de cumprir sua agenda no Planalto.