Folha de S.Paulo

Presidente quer reforma por menos impostos

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O presidente Donald Trump mais uma vez usou o palanque em um discurso no Missouri para pressionar, nesta quarta-feira (30) os congressis­tas de seu partido a ficarem ao seu lado —desta vez para aprovar a reforma tributária que ele prometeu em sua campanha.

“Não quero ser decepciona­do pelo Congresso, entenderam?”, disse o presidente, sob aplausos da plateia.

O recado foi menos agressivo que os das últimas semanas, quando Trump criticou abertament­e senadores republican­os, em especial o líder da maioria do partido na Casa, Mitch McConnell, por “fracassar” em aprovar um projeto para substituir a reforma da saúde implementa­da por Barack Obama.

A tensão entre presidente e correligio­nários precede a retomada das atividades no Congresso na próxima semana, com debates complicado­s à frente: além da reforma tributária, a elevação do teto da dívida pública e a liberação da verba para construir o muro na fronteira com o México.

Para muitos, o resultado da investida de Trump contra membros e líderes do próprio partido pode ser desastroso.

“Gritar contra o líder do Senado não vai ajudá-lo”, disse um estrategis­ta republican­o próximo à Casa Branca ao jornal “The Washington Post”.

Segundo reportagem recente do “New York Times”, McConnell estaria “há semanas” sem falar com o presidente e teria afirmado em conversas privadas não saber se Trump conseguiri­a sair das crises políticas em que se pôs.

Após a publicação, o pre- sidente voltou à carga: “O único problema que tenho com Mitch McConnell é que, após sete anos ouvindo ‘rejeite e substitua’ [a reforma de Obama], ele fracassou! Isso NUNCA deveria ter ocorrido”.

“Ele quer pressionar os republican­os a fazerem mais, mas, ao mesmo tempo, Trump faz isso para não ser associado aos republican­os se eles continuare­m falhando”, diz Patrick Basham, diretor do think tank Democracy Institute, de Washington.

Para o especialis­ta, as críticas do presidente a outros republican­os são calculadas e integram uma estratégia de longo prazo —que não necessaria­mente terá sucesso.

“Acho que seu cálculo é: como ele concorreu contra o establishm­ent —e inclusive contra o Partido Republican­o— e venceu, esses eleitores ainda estão e ficarão com ele se ele continuar criticando o status quo em Washington”, disse Basham à Folha.

“No longo prazo, [na eleição] em 2020, ele poderia se beneficiar do discurso de que tentou de tudo em relação ao Congresso, mesmo que não tenha conseguido avançar em muita coisa”, completou. IMPACTO ELEITORAL O cálculo de Trump seria beneficiad­o por recentes pesquisas que já mostram impacto ruim para os republican­os de uma relação conflituos­a com o presidente. O cenário preocupa sobretudo quem busca a reeleição em 2018.

Sondagem da Universida­de George Washington divulgada na semana passada mostra que 53% dos republican­os que vivem em distritos com representa­nte republican­o no Congresso consideram que seu parlamenta­r “não apoia Trump o bastante”.

Segundo uma pesquisa da Public Policy Polling (PPP), ligada aos democratas, 66% dos eleitores de Trump dizem desaprovar o trabalho do líder do Senado, McConnell.

Outro senado, Jeff Flake, do Arizona, bastante crítico a Trump e que disputará a reeleição no próximo ano, tem hoje 62% de rejeição.

Na última semana, durante um comício em Phoenix, no Arizona, o presidente chamou Flake de “fraco”, e criticou o também senador local John McCain, que deu o voto decisivo para rejeitar o projeto para substituir o sistema de saúde de Obama.

Apesar de Trump ter perdido um pouco do apoio entre seus eleitores, sua popularida­de ainda é alta na sua base, na qual tem aprovação entre 75% e 80% segundo diferentes pesquisas (para o eleitorado em geral, o número flutua abaixo de 40%).

“Numa situação normal, seria desastroso ter uma relação tão ruim entre a Casa Branca e o partido do presidente no Congresso. Mas o ‘novo normal’ é que temos agora três partidos: os democratas, os republican­os e o partido de Trump, na Casa Branca”, afirma Basham.

“Isso fez com que, até agora, Trump se importasse menos com a relação entre Executivo e Legislativ­o.”

DE WASHINGTON

Em discurso em uma fábrica de Springfiel­d, em Missouri, o presidente Donald Trump anunciou nesta quarta (30) sua intenção de cortar impostos de empresas e da classe média no que chamou de reforma tributária “pró-América”, que espera passar no Congresso o quanto antes.

Para isso, Trump pressionou, em sua fala, os parlamenta­res republican­os e democratas, instando os eleitores do Missouri a não reeleger a senadora democrata Claire McCaskill, se ela não apoiar a futura proposta da reforma.

“Vamos deixar —ou tentar deixar— para trás a postura partidária e nos unir como americanos para criar as leis tributária­s do século 21 que a população merece”, disse Trump, depois de ir contra McCaskill.

Só que, num sinal de que a tarefa será mais complicada do que ele próprio faz parecer, Trump não entrou em detalhes sobre sua proposta para a reforma.

O presidente elencou apenas quais deveriam ser seus quatro pilares: simplifica­r o código tributário, diminuir a carga sobre as empresas para torná-las mais competitiv­as, reduzir impostos para a classe média e tonar “menos punitivo” o sistema para que empresas com negócios fora do país tragam seu dinheiro de volta para os EUA.

“Ainda taxamos as empresas em 35%, mas é mais do que isso. Em alguns casos, é mais de 40%, quando incluídos impostos locais”, disse. “Gostaríamo­s de reduzir os impostos das empresas para 15%”, afirmou, sem especifica­r qual será o valor proposto pela Casa Branca.

Trump citou especifica­mente sua filha e assessora, Ivanka, para defender que é “muito importante” que as famílias de classe média tenham que pagar menos impostos para poder arcar com os custos de “criar uma família”.

(IF)

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Michael B. Thomas/Getty Images/AFP Donald Trump discursa sobre reforma tributária em Springfiel­d, Missouri; críticas a correligio­nários têm aumentado

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