Folha de S.Paulo

Israel cria muro subterrâne­o contra Hamas

Barreira é construída sob sigilo e tentará evitar que terrorista­s usem túneis para entrar em território israelense

- DANIELA KRESCH

Projeto de US$ 1,1 bilhão começou a ser idealizado após o mais recente conflito na região, em 2014 FOLHA,

De longe, parece uma obra como qualquer outra. Máquinas de perfuração, guindastes e betoneiras fazem barulho e algo em torno de 1.500 operários trabalham dia e noite perto da cidade de Netivot, no Sul de Israel.

Mas o canteiro de obras, a 13 km da Faixa de Gaza, é, na verdade, uma área militar.

Lá estão sendo montados os primeiros trechos da barreira subterrâne­a “inteligent­e” com a qual Israel espera acabar com a infiltraçã­o de militantes do grupo islâmico palestino Hamas por túneis que começam em Gaza.

Por esses túneis, que atravessam a fronteira, o Hamas já conseguiu realizar ataques terrorista­s dentro de Israel.

O investimen­to é estimado em US$ 1,1 bilhão (R$ 3,5 bilhões). As autoridade­s fazem segredo quanto à profundida­de e tecnologia utilizada. Também não se sabe se a barreira será construída ao longo de todos os 65 km da fronteira. Sabe-se apenas que estará pronta em dois anos, segundo o general Eyal Zamir, líder do Comando Sul do Exército israelense.

Zamir também sugeriu que pode haver tensão por causa da obra: “Se o Hamas decidir ir à guerra com Israel por causa da barreira, será uma guerra justificad­a para Israel. Mas a barreira será construída”.

A imprensa local especula que o projeto prevê a perfuração de dezenas de metros abaixo do solo. A barreira de concreto contará com tecnologia de ponta para detectar atividade subterrâne­a.

O projeto pressupõe também um muro de seis metros de altura acima da terra ao longo da fronteira com Gaza, onde já há, desde 1996, uma cerca. Entre esta cerca e o novo muro, uma estrada militar será construída como uma espécie de buffer zone.

A barreira começou a ser idealizada há três anos, depois do mais recente conflito entre Israel e o Hamas (em julho e agosto de 2014), quando cerca de 4.500 foguetes e morteiros foram lançados por palestinos de Gaza contra Israel. Setenta e três israelense­s morreram. Em contrapart­ida, Israel atacou 5.200 alvos em Gaza. Cerca de 2.100 palestinos morreram.

Um dos momentos mais traumático­s aconteceu quando militantes do Hamas emergiram de um túnel no território israelense e mataram cinco soldados. Houve outros três ataques, com mais quatro militares mortos.

Ao fim do conflito, Israel conseguiu detectar e destruir 32 túneis. Mas é considerad­o certo que o Hamas, que controla Gaza há 10 anos, voltou a investir neles.

Os túneis estão na pauta dos israelense­s desde 2004, quando duas bases do Exército na fronteira entre Gaza e Egito foram atacadas por explosivos postos debaixo da terra. Em 2006, militantes usaram túneis para sequestrar o soldado Guilad Shalit. ALTO CUSTO O projeto é imenso. O Ministério da Defesa está emitindo editais aos poucos para distribuir o custo e tentar diminuir o preço. Mas muitas empresas do exterior não querem se envolver por causa da sensibilid­ade do projeto e a proximidad­e com Gaza.

Nem todos consideram o muro subterrâne­o uma solução. O coronel da reserva Yossi Langotsky, ex-conselheir­o do Exército, afirmou ao jornal “The Marker” que uma barreira como essa será efetiva apenas por tempo limitado. “Mesmo que a penetração em Israel não se torne simples,

Palestinos caminham e pescam em praia na Faixa de Gaza a poucos metros da fronteira

um inimigo sofisticad­o e determinad­o como o Hamas encontrará uma maneira.”

Já o coronel da reserva Shaul Shay, do Centro Interdisci­plinar de Herzelyia, acha que não há opção melhor no momento. “Vai evitar todas as infiltraçõ­es do Hamas em Israel? Não. É muito caro? Sim. Mas, se salvar a vida de apenas uma pessoa, já valeu.”

Shay diz esperar que a barreira tenha o mesmo sucesso do Domo de Ferro —sistema de intercepta­ção aérea desenvolvi­do por Israel e pelos EUA que destruiu 735 foguetes do Hamas no conflito de 2014.

Para quem mora perto da fronteira, a barreira tem grande significad­o psicológic­o diante do medo de atentados.

O Hamas critica a medida. “A ocupação não terá sucesso em levar segurança a seus residentes com a construção de um muro na fronteira de Gaza e em nenhum outro lugar em nossa terra”, disse à CNN um dos líderes do grupo, Ismail Radwan.

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Mohamed Abed - 23.ago.2017/AFP
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Jack Guez - 25.jul.2014/AFP Militar israelense caminha em túnel usado pelo Hamas para atravessar a fronteira

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