Folha de S.Paulo

Brasil é criticado por ter aprovado embaixador

Representa­nte do Sri Lanka no país desde 2015 é acusado de praticar crimes de guerra

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

O Itamaraty está sendo questionad­o sobre os critérios de aprovação de embaixador­es que servem no país, após a Folha divulgar que o Brasil abrigou por dois anos um embaixador acusado de crimes de guerra.

Em questionam­ento enviado ao chanceler Aloysio Nunes, a diretora-executiva da Conectas Direitos Humanos, Juana Kweitel, solicita que o Itamaraty esclareça quais são os critérios levados em consideraç­ão para que o Brasil conceda o agrément, a aprovação para um representa­nte diplomátic­o atuar no país.

A entidade solicita também esclarecim­entos sobre o processo de concessão de agrément em 2015 ao embaixador do Sri Lanka no Brasil, general Jagath Jayasuriya.

Na segunda (28), o promotor espanhol licenciado Carlos Castresana reuniu-se com um representa­nte do Ministério Público Federal para pedir ao Brasil que solicitass­e a prisão preventiva do embaixador do Sri Lanka pela Interpol. Castresana foi responsáve­l por apresentar a investigaç­ão que culminou na prisão do general chileno Augusto Pinochet por crimes como genocídio e tortura.

O embaixador Jayasuriya é acusado de cometer crimes de guerra na época em que comandava as tropas do governo na guerra civil do Sri Lanka, em 2009, segundo relatório do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para Direitos Humanos.

Tropas sob seu comando mataram 40 mil civis. A acusação o responsabi­liza pela matança, tortura e o estupro sistemátic­o de prisioneir­as pelas forças de segurança.

Mas Jayasuriya deixou o posto no Brasil e partiu para o Sri Lanka no domingo (27), véspera da reunião no MPF.

“É inaceitáve­l que o Estado brasileiro tenha oferecido imunidade diplomátic­a a uma pessoa como Jayasuriya diante de acusações tão graves. O Sri Lanka foi palco de crimes de guerra e contra a humanidade, muitos deles comandados pelo general. O Brasil tem a obrigação de investigar e dar os encaminham­entos cabíveis”, disse Camila Asano, coordenado­ra de Política Externa da Conectas.

“É imprescind­ível que o Estado brasileiro revise urgentemen­te os critérios e procedimen­tos para evitar oferecer guarida a criminosos de guerra”, completou Asano.

O Brasil poderia não ter recebido as credenciai­s do embaixador. Também poderia declará-lo persona non grata ou requerer ao país de origem que sua imunidade diplomátic­a fosse retirada.

Procurado na segunda-feira e, novamente, nesta quarta (30) , o Itamaraty não quis se manifestar.

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Ishara S. Kodikara - 1.ago.2013/AFP Jagath Jayasuriya foi embaixador do Sri Lanka no Brasil

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