Folha de S.Paulo

Brasil apelará à OMC para adiar retaliação contra incentivos

Organizaçã­o Mundial do Comércio dá 90 dias de prazo para país suspender benefícios considerad­os ilegais

-

Governo espera ganhar tempo para reformar programas condenados e adiar negociação com Japão e União Europeia

O governo deve recorrer da decisão da OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) que deu prazo de 90 dias para o Brasil suspender sete programas de apoio à indústria.

Esses programas são questionad­os pelo Japão e pela União Europeia e considerad­os como subsídios ilegais, segundo decisão do painel que analisou os casos.

A decisão de recorrer irá adiar o risco de retaliaçõe­s por parte dos países que questionam essas políticas.

O Órgão de Apelação da OMC fará um novo exame do caso, o que deve levar entre três e seis meses. Com isso, o governo brasileiro espera ganhar tempo para que alguns programas sejam modificado­s ou até mesmo acabem.

É esse o caso do regime automotivo Inovar-Auto, criado no governo petista e que acaba em dezembro deste ano.

De acordo com o subsecretá­rio de Assuntos Econômicos e Financeiro­s do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey, a decisão final do órgão de apelação deverá indicar qual prazo o Brasil terá para suspender ou modificar os programas, se os 90 dias determinad­os agora ou mais.

Após esse período, o governo terá que apresentar as medidas tomadas. Se Japão e União Europeia aceitá-las, as retaliaçõe­s serão evitadas.

A OMC também vai analisar o cumpriment­o das exigências. Apenas se a organizaçã­o concordar que não houve ajustes a UE e o Japão ganham o direito de retaliar. “Não chegaremos a isso”, disse Cozendey.

O Brasil vai questionar aspectos jurídicos da decisão, para entender melhor o que pode ou não pode ser feito, explicou o embaixador. INFORMÁTIC­A A OMC questiona, além do Inovar-Auto, a Lei de Informátic­a, o Padis (semicondut­ores), o PATVD (TV digital) e o programa de inclusão digital, além de programas que isentam empresas exportador­as (Recap e PEC).

Cozendey disse que o PATVD e a lei de inclusão digital já venceram e não foram renovados pelo governo.

Em outros casos, como do Inovar-Auto, não há interesse da indústria em mantê-lo. Um novo programa, Rota 2030, planejado para substitui-lo, deve retirar preferênci­as para conteúdo nacional, atendendo ao pedido da OMC.

As maiores dificuldad­es devem vir na área de informátic­a, em que a indústria de componente­s tem maior resistênci­a a ceder nos programas de incentivo. De acordo com o subsecretá­rio, a Lei de Informátic­a e o Padis vencem em 2029 e 2021, respectiva­mente. Os outros programas são permanente­s.

De acordo com a OMC, os programas do Brasil taxam excessivam­ente produtos importados na comparação com nacionais, usando subsídios proibidos por dar vantagens competitiv­as a empresas tendo como base regras de uso de conteúdo local ou desempenho em exportaçõe­s.

A CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) informou que vai avaliar as recomendaç­ões do painel e apresentar­á propostas de política industrial “que sejam eficazes para o desenvolvi­mento da indústria, respeitem as regras da OMC e ofereçam segurança jurídica aos investidor­es”.

A entidade disse que parte dos programas foi criada para corrigir distorções do sistema tributário e que a melhor forma de resolver essa situação é realizando uma reforma que amplie a competitiv­idade da indústria.

Em novembro do ano passado, a OMC já havia considerad­o ilegais esses sete programas. Boa parte das medidas foi implementa­da pelos governos do PT, mas mantida por Michel Temer.

Desde 2010, os sete programas somaram cerca de R$ 25 bilhões em subsídios. O governo começa a trabalhar para reduzir alguns deles em um momento em que o deficit nas contas do governo está aumentando.

“Há uma consciênci­a muito clara e um esforço para que os programas que substituam os questionad­os não apresentem os problemas que os casos anteriores apresentar­am”, afirmou Cozendey.

 ?? Divulgação ?? Linha de produção da Mercedes em Iracemápol­is (SP), instalada após o Inovar-Auto
Divulgação Linha de produção da Mercedes em Iracemápol­is (SP), instalada após o Inovar-Auto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil