Folha de S.Paulo

Entre os casos mais polêmicos, estão as libertaçõe­s de acusados por violência contra

- CLEOMAR ALMEIDA YALA SENA

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Devido à falta de tornozelei­ras eletrônica­s, presos em flagrante sob suspeita de violência doméstica, de tráfico de pequenas quantidade­s de drogas e até por integrarem quadrilhas de roubo estão sendo soltos sem nenhum tipo de monitorame­nto.

Isso ocorre em ao menos sete Estados do país.

São Paulo, por exemplo, parou de monitorar 5.391 presos que trabalham fora dos presídios. O governo estadual rompeu o contrato com a Synergye Tecnologia, fornecedor­a de tornozelei­ras, por mau funcioname­nto do serviço. A empresa recorreu.

A falta de tornozelei­ras atinge também Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Goiás, Acre e Amazonas e Piauí.

Segundo os fabricante­s, há atrasos nos pagamentos. Os Estados afirmam que estão se organizand­o para quitar os débitos ou para retomar o atendiment­o às demandas.

Nesses Estados, não há equipament­os suficiente­s para o número de presos soltos, de acordo com juízes de varas criminais ou que atuam em casos de violência doméstica dos Tribunais de Justiça.

“Com o sistema penitenciá­rio superlotad­o, vamos jogar no presídio o guri primário, que está com 20 ou 30 pedras 1. Instalação O preso tem o equipament­o lacrado em seu tornozelo de crack para vender na boca de fumo e foi contratado por alguém, para ser recrutado por uma facção lá dentro?”, questiona o juiz Vanderlei Deolindo, do Rio Grande do Sul. Ele afirma que, em casos como esse, ele solta os suspeitos mesmo sem monitorame­nto.

O deficit desses aparelhos também faz manter encarcerad­os presos com direito a liberdade assistida. “Em muitos casos, juízes ou liberam os presos sem nenhum controle ou decretam prisões que seriam desnecessá­rias, se houvesse tornozelei­ra”, declara o juiz Henrique Baltazar dos Santos, do Rio Grande do Norte. AMEAÇA a mulher, segundo o juiz do Piauí José Olindo Gil Barbosa. “Para o preso que não representa perigo, determinam­os a soltura sem monitorame­nto com o pé atrás. Mas os com perigo evidente não liberamos.”

A piauiense Claudia (nome fictício), 42, discorda da estratégia de seu conterrâne­o. No mês passado, ela conta, o exmarido a manteve em cárcere privado por mais de três horas, sob a ameaça de um facão. Por um descuido dele, ela escapou e chamou a polícia.

O ex-marido foi preso, e após 24 horas, liberado sem tornozelei­ra —ao contrário do que a Defensoria Pública diz que deveria ter sido o correto.

Assim que ele deixou a prisão, Claudia conta que o excompanhe­iro voltou a sua casa para ameaçá-la de novo.

O Piauí está sem o serviço de monitorame­nto a distância há cinco meses.

Já para o magistrado Paulo Sorci, de São Paulo, a falta das tornozelei­ras “não vai impedir que o preso goze do benefício a que tenha direito”.

Em Goiás, a Justiça mandou o Estado regulariza­r a situação do monitorame­nto eletrônico. Juízes de 30 comarcas solicitara­m 3.174 tornozelei­ras ao governo goiano, mas não foram atendidos.

A Folha teve acesso à cópia de um documento do Estado no qual informa a um magistrado que, por falta de estoque de tornozelei­ras, acusados de roubo que foram soltos não receberam o equipament­o.

Magistrado­s da Justiça acriana e amazonense relatam as mesmas dificuldad­es. O problema se agrava, principalm­ente, em comarcas do interior dos dois Estados.

No Brasil, até 2015, eram 18.172 presos com tornozelei­ra eletrônica, o que representa­va 2,7% da população carcerária, segundo o Departamen­to Penitenciá­rio Nacional, do Ministério da Justiça. Não há dado mais recente.

Acre, Rio de Janeiro, Piauí, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul devem quase R$ 10 milhões às fornecedor­as, por atraso no pagamento ou por extravio dos equipament­os. Três empresas prestam o serviço no país.

A Spacecom e a UE Brasil Tecnologia confirmara­m as dívidas e dizem que têm capacidade de produção para atender à demanda. A Synergye não se pronunciou.

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