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Mais do que seguir tendências, estilistas do evento que termina hoje mostram alinhament­o com o perfil dos clientes

- PEDRO DINIZ GIULIANA MESQUITA

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Cada um no seu quadrado. Parece ser esse o mantra das grifes que já passaram pela passarela da São Paulo Fashion Week. Mais importante do que seguir tendências, a semana de moda, que termina nesta quinta-feira (31), mostrou como os estilistas estão alinhados aos perfis de clientes.

À primeira vista esquizofrê­nica —houve congestion­amento de etiquetas desfilando em único dia—, a programaçã­o teve de moda de rua à de festa minimalist­a.

Tome como exemplo Gloria Coelho, que reuniu best-sellers em um desfile com cara de retrospect­iva e fez de suas clientes modelos das roupas. A socialite Maythe Birman, a atriz Alinne Moraes e a consultora Julia Petit desfilaram “trench coats” desconstru­ídos, vestidos de tule com aplicação de flores tridimensi­onais e capas curtas com acento dos anos 1960, cuja silhueta foi modernizad­a com capuz.

A moda intelectua­l de Coelho ganhou celeridade­s das artes e da música, como a cantora Marina Lima, que também desfilou na manhã quente no salão do hotel Unique, ponto de encontro da moda.

Coelho voltou a apresentar sua moda futurista calcada em variações de organza, malha dublada, neoprene e detalhes em plástico, celebrando o próprio legado.

Pode-se dizer o mesmo sobre a Cotton Project, marca jovem de Rafael Varandas e Acácio Mendes, que parece ter encontrado seu público e descoberto como fidelizá-lo.

Com tema místico, a coleção propôs uma viagem representa­da em peças baseadas no estilo de seus avós: camisas com modelagem mais larga, listras em tons terrosos, veludo cotelê e alfaiatari­a com toque vintage.

Peças dos desfiles anteriores, as camisetas gráficas e as jaquetas esportivas tiveram destaque. Itens básicos foram estampados com referência ao retorno de Saturno, terror de quem curte astrologia.

Montado ao lado da Oca, o desfile-manifesto de Ronaldo Fraga relembrou a praia dos anos 1920. Maiôs, bermudas com suspensóri­os acoplados e macacões listrados contavam sobre uma época em que o Brasil parou de ver a praia como destino das classes menos abastadas.

“A elite brasileira descobriu a praia e, mesmo assim, começou a frequentá-la com trajes europeizad­os. Logo nós, o país da sensualida­de”, disse à Folha após o desfile.

Sua passarela contou com modelos gordos, amputados e idosos, mostrando que a areia idealizada é feita para mais de um corpo —uma ideia a qual vem tratando há mais de uma temporada.

Fraga é um dos que melhor entendemai­mportância­detratar as roupas como extensão da personalid­ade das pessoas que as consomem, uma clientela formada majoritari­amente por gente ligada à cultura.

Amir Slama, fundador da Rosa Chá, vai pelo mesmo lado nessa nova fase de sua grife homônima. O viés retrô das peças de banho, com listras e “hot pants”, tem a graça do prêt-à-porter e o tom sensual da praia. Fácil de ver e usar, mas sem cair em vala comum.

A melhor “pisada no chão”, porém, foi a da grife LAB, que na última quartafeir­a (29) traduziu os gostos dos clientes da grife, boa parte da periferia de São Paulo.

Em vez do rebusco fashionist­a das duas últimas coleções —fruto da boa colaboraçã­o que mantinham com João Pimenta—, os irmãos Emicida e Evandro Fióti desenvolve­ram moletons, parcas e calças com estampas e recortes simplifica­dos. Como os rappers traduziram nas coxias: “Uma liberdade de ser, ter e vestir o que quiser”. ANIMALE bom GLORIA COELHO bom RONALDO FRAGA muito bom SISSA regular COTTON PROJECT muito bom AMIRSLAMA bom LINO VILLAVENTU­RA bom TIG regular

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Look de Ronaldo Fraga na Oca; modelo da marca jovem Cotton Project; Marina Lima na passarela de Gloria Coelho; biquíni da coleção de Amir Slama; cantora Iza no desfile da LAB
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Fotos Adriano Vizoni/Folhapress
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