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Mais do que seguir tendências, estilistas do evento que termina hoje mostram alinhamento com o perfil dos clientes
FOLHA FOLHA
Cada um no seu quadrado. Parece ser esse o mantra das grifes que já passaram pela passarela da São Paulo Fashion Week. Mais importante do que seguir tendências, a semana de moda, que termina nesta quinta-feira (31), mostrou como os estilistas estão alinhados aos perfis de clientes.
À primeira vista esquizofrênica —houve congestionamento de etiquetas desfilando em único dia—, a programação teve de moda de rua à de festa minimalista.
Tome como exemplo Gloria Coelho, que reuniu best-sellers em um desfile com cara de retrospectiva e fez de suas clientes modelos das roupas. A socialite Maythe Birman, a atriz Alinne Moraes e a consultora Julia Petit desfilaram “trench coats” desconstruídos, vestidos de tule com aplicação de flores tridimensionais e capas curtas com acento dos anos 1960, cuja silhueta foi modernizada com capuz.
A moda intelectual de Coelho ganhou celeridades das artes e da música, como a cantora Marina Lima, que também desfilou na manhã quente no salão do hotel Unique, ponto de encontro da moda.
Coelho voltou a apresentar sua moda futurista calcada em variações de organza, malha dublada, neoprene e detalhes em plástico, celebrando o próprio legado.
Pode-se dizer o mesmo sobre a Cotton Project, marca jovem de Rafael Varandas e Acácio Mendes, que parece ter encontrado seu público e descoberto como fidelizá-lo.
Com tema místico, a coleção propôs uma viagem representada em peças baseadas no estilo de seus avós: camisas com modelagem mais larga, listras em tons terrosos, veludo cotelê e alfaiataria com toque vintage.
Peças dos desfiles anteriores, as camisetas gráficas e as jaquetas esportivas tiveram destaque. Itens básicos foram estampados com referência ao retorno de Saturno, terror de quem curte astrologia.
Montado ao lado da Oca, o desfile-manifesto de Ronaldo Fraga relembrou a praia dos anos 1920. Maiôs, bermudas com suspensórios acoplados e macacões listrados contavam sobre uma época em que o Brasil parou de ver a praia como destino das classes menos abastadas.
“A elite brasileira descobriu a praia e, mesmo assim, começou a frequentá-la com trajes europeizados. Logo nós, o país da sensualidade”, disse à Folha após o desfile.
Sua passarela contou com modelos gordos, amputados e idosos, mostrando que a areia idealizada é feita para mais de um corpo —uma ideia a qual vem tratando há mais de uma temporada.
Fraga é um dos que melhor entendemaimportânciadetratar as roupas como extensão da personalidade das pessoas que as consomem, uma clientela formada majoritariamente por gente ligada à cultura.
Amir Slama, fundador da Rosa Chá, vai pelo mesmo lado nessa nova fase de sua grife homônima. O viés retrô das peças de banho, com listras e “hot pants”, tem a graça do prêt-à-porter e o tom sensual da praia. Fácil de ver e usar, mas sem cair em vala comum.
A melhor “pisada no chão”, porém, foi a da grife LAB, que na última quartafeira (29) traduziu os gostos dos clientes da grife, boa parte da periferia de São Paulo.
Em vez do rebusco fashionista das duas últimas coleções —fruto da boa colaboração que mantinham com João Pimenta—, os irmãos Emicida e Evandro Fióti desenvolveram moletons, parcas e calças com estampas e recortes simplificados. Como os rappers traduziram nas coxias: “Uma liberdade de ser, ter e vestir o que quiser”. ANIMALE bom GLORIA COELHO bom RONALDO FRAGA muito bom SISSA regular COTTON PROJECT muito bom AMIRSLAMA bom LINO VILLAVENTURA bom TIG regular