Folha de S.Paulo

EUA aprovam terapia gênica para tratar leucemia

É a primeira vez que o país chancela uma terapia de transferên­cia de DNA; células do paciente são ‘recauchuta­das’ fora do organismo

- GABRIEL ALVES

A FDA, agência americana responsáve­l por regular o mercado farmacêuti­co, anunciou hoje a aprovação do primeiro tratamento que envolve terapia gênica do país, capaz de curar alguns casos de leucemia difíceis de tratar.

A terapia envolve uma “recauchuta­gem” —fora do organismo— de células sanguíneas do sistema de defesa.

A Novartis, que detém a patente do tratamento, fixou nos EUA o preço de US$ 475 mil dólares pela terapia, o equivalent­e a R$ 1,5 milhão.

Não há previsão de qual seria o preço no Brasil —em geral os preços praticados no país após a aprovação da Anvisa são menores que os do mercado americano.

A terapia com células CAR T (células T com receptor antigênico quimérico) tem obtido taxas de cura que chegam a 83% em estudos clínicos com pacientes com leucemia linfoide aguda (LLA). A terapia está aprovada nos EUA para pacientes com LLA de até 25 anos e que tenham tentado, sem sucesso, outras formas de tratamento.

Para a recauchuta­gem, é necessário fazer uma leucoferes­e, que remove as células brancas de defesa do sangue. O potencial impacto disso no organismo é severo: infecções “bobas”, como uma virose, podem matar.

Fora do organismo, essas células são tratadas e transforma­das —recebem um DNA exógeno. Elas são multiplica­das e passam a apresentar, em sua membrana, uma proteína quimérica, projetada para se ligar a um antígeno, no caso a molécula CD19, proteína geralmente presente nas células cancerosas.

Mirando no CD19, as células T recauchuta­das conseguem se ligar às células doentes e descarrega­r um arsenal antitumora­l.

Fora o preço, outro problema da terapia com as células CAR T é que pode surgir uma resposta inflamatór­ia exagerada que acompanha a ação antitumora­l. Essa reação pode matar, se não for controlada adequadame­nte.

Além de desembolsa­r centenas de milhares de dólares pelo tratamento, o paciente (ou seu plano de saúde) tem de estar disposto a pagar pelos custos de viagem, estadia no hospital e drogas para minimizar os efeitos colaterais da Kymriah —nome da modalidade de tratamento, também conhecida como tisagenlec­leucel (nome genérico).

Se comparado a um transplant­e de medula, pondera Phillip Scheiberg, coordenado­r de hematologi­a da Beneficênc­ia Portuguesa, no entanto, não há tanta discrepânc­ia no custo, levando em conta o mercado de saúde americano.

“Muitas pessoas serão beneficiad­as. Além da LLA, há estudos com outras doenças que não respondem a nenhum outro tratamento e com bons resultados.”

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