Folha de S.Paulo

Os cuidados de Tite

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TITE TRATA cada jogo da seleção como se fosse o último. Exagera até, ao dizer que “a Copa do Mundo já começou” ao se referir ao jogo na noite desta quinta (31), na Arena Grêmio, contra o Equador.

O treinador não quer ver o time relaxado por já estar garantido na Copa da Rússia.

Mais: não quer que nenhum jogador se ache com lugar cativo, embora pelo menos um tenha certeza.

Este um, Neymar, é claro, não por acaso foi poupado da única derrota dos comandados de Tite em 11 jogos, para a Argentina, na longínqua Austrália, depois de nove vitórias consecutiv­as, oito delas pelas eliminatór­ias.

Ninguém deu bola, era um amistoso, a Globo nem transmitiu, num dia útil e quase de madrugada, jogo importante apenas para os hermanos, sob a nova direção de Jorge Sampaoli.

Na sexta (1º) fará um ano da estreia de Tite na seleção, contra o mesmo Equador desta quinta, com a diferença de que, então, na altitude de Quito, os equatorian­os eram os favoritos, não perdiam em casa para o Brasil havia 33 anos, e vinham no topo da tabela, enquanto o time da CBF estava apenas em sexto lugar, fora da zona de classifica­ção.

A situação está invertida, Brasil no topo, Equador em sexto.

Porque Tite fez a seleção jogar com padrão desde a estreia, porque a fez pensar em cada jogo como se fosse o mais importante, porque é capaz de cuidar dos detalhes como se o deus dos estádios morasse neles a tal ponto que até adiar jogo adiou para ter o gramado 100%.

Quando é que se viu, no Brasil, técnico pedir para transferir jogo do dono do campo, marcado para o sábado anterior, porque a seleção jogará nele quatro dias depois?

Pois Tite pediu o adiamento de Grêmio x Sport tamanho seu cuidado com o estado do gramado.

Preocupado com os mínimos detalhes, também quis saber se Philippe Coutinho estava mesmo machucado, ou se era, e é, apenas mais uma triste encenação para se transferir ao Barcelona, e não liberou o meia da convocação.

Tite está na dele, porque, afinal, saiu de um regime de clube, o Corinthian­s, em que jogou 71 vezes em 2015, para jogar apenas 11 em um ano à frente da seleção.

Ele acha que deve olhar para cada embate, principalm­ente os oficiais, e será o nono, como se fosse o penúltimo antes da final da Copa.

Até mesmo quando os jogos foram amistosos, contra a Colômbia, em homenagem às vítimas da tragédia da Chapecoens­e, e contra a Austrália, em seguida à derrota para a Argentina, cada resultado teve tratamento especial.

Tite admitiu que chegou a pensar em combinar um empate com os generosos colombiano­s, mas não teve coragem e viu seu time, apenas com jogadores que atuam no país, vencer.

Golear os fracos australian­os serviu para esquecer a derrota para os poderosos argentinos.

Pena que Tite se concentre apenas na seleção, longe de refletir o futebol jogado no Brasil, a exemplo do já acontecido com o vôlei brasileiro, quando os clubes nacionais nem de longe espelhavam as conquistas do sexteto nacional.

Por paus ou por pedras, ele conseguiu recuperar o interesse do torcedor pela equipe amarelinha e, mesmo que o encontro desta noite signifique nada, estaremos todos de olho.

O técnico da seleção brasileira trata de seu time nos mínimos detalhes, como se fosse uma jóia rara

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