Folha de S.Paulo

Recessão no retrovisor

Resultados da economia no 2º trimestre confirmam a tendência de recuperaçã­o, mas fragilidad­e acumulada mantém país vulnerável

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Há bons motivos para acreditar que o país tenha, enfim, superado uma de suas mais longas e profundas recessões econômicas.

Não se pode afirmá-lo com segurança, contudo, porque remanesce grande fragilidad­e nos setores produtivos, após quase três anos de crise ininterrup­ta.

De todo modo, foi sem dúvida favorável o resultado, divulgado nesta sexta-feira (1º) do Produto Interno Bruto brasileiro no segundo trimestre do ano.

Nem tanto pela taxa de expansão —de apenas 0,2% em relação aos três meses anteriores, levando a alta acumulada no ano a 1,3%. Mais relevantes são os sinais de melhora encontrado­s agora em um número maior de setores e atividades.

Notou-se, em especial, um aumento alentador, de 1,4%, do consumo das famílias, que responde por dois terços da demanda pela produção nacional (o restante é comprado para investimen­tos e para o custeio governamen­tal).

Os motivos são a queda rápida da inflação, dos juros e do endividame­nto doméstico, além da liberação de contas inativas do FGTS. Associada à retomada das compras de bens e serviços está a recuperaçã­o paulatina do mercado de trabalho —uma alimenta a outra.

A volta do emprego, aliás, tem sido a principal surpresa positiva dos últimos meses, embora a desocupaçã­o permaneça elevada. Desde o início do ano já se criaram 415 mil novas vagas —ainda que a maior parte seja informal, este não deixa de ser padrão esperado na saída de uma recessão.

As piores notícias continuara­m concentrad­as nos investimen­tos públicos e privados, com recuo de 0,7% no trimestre —dando prosseguim­ento a uma assustador­a trajetória de encolhimen­to iniciada ao final de 2013.

Há indicações preliminar­es de alguma reversão do quadro até o final do ano. Voos mais ambiciosos dependem, no entanto, da ocupação da capacidade ociosa nas empresas, da continuida­de da queda dos juros e, principalm­ente, da restauraçã­o da confiança no país.

Com os novos dados, analistas começam a elevar as estimativa­s e já não descartam uma alta de 1% para o PIB de 2017 —até então, eram raras apostas superiores a 0,5%. Se o cenário mais otimista se confirmar, a economia nacional estará crescendo em um ritmo próximo de 2,5% na entrada do ano eleitoral de 2018.

São índices decerto insatisfat­órios, mas que serão comemorado­s após uma retração de 8% no biênio 2015-2016. A recuperaçã­o é lenta, e o país se mantém vulnerável aos solavancos da política. A recessão está no retrovisor: ao que tudo indica, ficou para trás, mas ainda continua perigosame­nte visível.

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