Folha de S.Paulo

O fetiche da Lava Jato

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A fixação da Operação Lava Jato são as algemas, não o bigode de Romero Jucá (PMDBRR). Dessa vez quem matou a charada foi José Simão (Folha, 31/8). O principal desejo de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot, líderes do Partido da Justiça (PJ), é punir. Eles querem meter na cadeia o maior número possível de corruptos.

No limite, tal como no romance de Machado de Assis, ninguém escaparia “aos emissários do alienista”, uma vez que Itaguaí inteira, perdão, o Brasil todo, teria parte com a corrupção, inclusive o próprio trio justiceiro. Vejamos.

O braço direito de Janot na Procurador­ia trabalhou para escritório contratado pelo empresário Joesley Batista. Prenda-se Janot. Deltan aproveitou a fama adquirida para cobrar R$ 40 mil por palestras. Prenda-se Deltan. O padrinho de casamento de Moro prestou serviços para um acusado na Lava Jato. Prenda-se Moro.

É claro que, em algum ponto dessa dança das cadeiras, a música vai parar. Quem caiu saiu do jogo. Quem se salvou ficou. O primeiro sinal de parada veio um mês atrás, quando, ao contrário do relatado em “O Alienista”, a Câmara não “entregou o próprio presidente”, sabendo-se que Michel Temer é, na verdade, o chefe dos 263 deputados que decidiram protegê-lo.

Agora a nova e, quiçá, última grande ofensiva dos bacamartes deve ser a segunda denúncia contra o ocupante do Palácio do Planalto.

Metido no bambuzal plantado pelo doleiro Lúcio Funaro, Janot prepara as derradeira­s flechas de que dispõe, antes de deixar o cargo. Pelo que foi cuidadosam­ente vazado até aqui, Funaro revelou detalhes sobre entrega de dinheiro ao ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), também preso, e ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que curte prisão domiciliar. Ambos são aliados históricos do atual presidente da República.

Para também ajudar Janot, o placar de 2/8, quando Temer teve a primeira vitória, mostrou uma diminuição da blindagem presidenci­al. Cerca de cem parlamenta­res dos que optaram por destituir Dilma em 2016 escolheram agora jogar Temer no caldeirão da Lava Jato. Com isso, a facção anti-Partido da Justiça ficou restrita ao número que elegeu Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidênci­a da Casa no começo de 2015.

Trata-se do velho blocão/ centrão. Ele não é suficiente para fazer mudanças constituci­onais, mas, bem alimentado por verbas, consegue sustentar governos.

Foi assim que Sarney chegou ao fim do seu arrastado mandato em 1990. Vai ser interessan­te assistir ao novo embate entre os fisiológic­os e os alienistas, loucos para algemar as mãos esvoaçante­s do sucessor de Rousseff.

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