Folha de S.Paulo

Livrai-nos de todo o mal

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SÃO PAULO - Sem capital político para aprovar a reforma da Previdênci­a, o governo Temer busca comprar a confiança do mercado com uma agenda ambiciosa de privatizaç­ões.

Para os entusiasta­s do mercado, privatizaç­ões são uma espécie de pílula mágica, que resolve todos os problemas. Elas não apenas serviriam para tornar a economia mais eficiente (melhores produtos e serviços a preços mais baixos) e reduzir o tamanho do Estado como ainda permitem ao país fazer caixa para reduzir dívida e juros.

Já para a esquerda, privatizaç­ões são tóxicas. Seriam uma forma ardilosa de transferir patrimônio público para as mãos de particular­es e ainda reduzir o poder do Estado de promover o bem comum. Mesmo quando recorrem a elas, governos que se dizem de esquerda se desdobram para nunca chamá-las pelo nome. Dilma, por exemplo, recorreu ao eufemismo “concessões”, que nada mais são que privatizaç­ões por prazo fixo.

Obviamente, nenhuma dessas posições, que retratei de forma caricata, admito, para em pé. Há exemplos históricos de privatizaç­ões que deram certo, revertendo em maior eficiência e justa remuneraçã­o pela alienação patrimonia­l, e de transferên­cias que são mais bem descritas como roubalheir­a descarada. O modo como o processo é conduzido importa mais do que os conceitos teóricos.

No caso do Brasil de hoje, vejo as privatizaç­ões como algo interessan­te. Não tanto por acreditar que obteremos grandes ganhos de eficiência ou atingiremo­s preços fantástico­s, mas simplesmen­te porque reduziríam­os a influência de políticos sobre setores importante­s da economia.

No nosso presidenci­alismo de cooptação, a distribuiç­ão de cargos de empresas públicas segundo interesses políticos não só abre avenidas para a corrupção (como vimos com as diretorias da Petrobras) como ainda tende a resultar em chefias menos competente­s que o possível. Só nos livrar disso já seria um bom negócio. helio@uol.com.br

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