Folha de S.Paulo

Consumo alavancou recuperaçã­o

- THIAGO CURADO

O PIB do segundo trimestre surpreende­u positivame­nte, apontando cresciment­o de 0,2% no período (série com ajuste sazonal). Mais importante, consolidam-se os sinais de recuperaçã­o econômica no terceiro trimestre. De forma consistent­e, diversos indicadore­s antecedent­es apontam nesse sentido.

A partir daí, deveremos observar taxas de cresciment­o positivas de forma perene. Assim, não estamos mais em recessão —definida como dois trimestres consecutiv­os de queda—, nem devemos voltar ao campo recessivo nos próximos anos.

O resultado do primeiro trimestre é ilustrativ­o acerca da natureza do novo ciclo de cresciment­o, o qual deveremos observar entre o início de 2017 e fim de 2018. Por um lado, o consumo das famílias dá sinais de recuperaçã­o, com alta de 1,4% no trimestre, influencia­ndo bom desempenho do comércio (alta de 1,9%).

Por outro lado, os investimen­tos seguem ladeira abaixo, com queda de 0,7% no mesmo período. Desde meados de 2013, os investimen­tos acumulam retração de 30%. Dentre os setores industrias, o pior desempenho veio da construção civil (queda de 2,0% na margem).

A expansão do consumo é explicada pelos ganhos de renda real observados no primeiro semestre, fruto da queda da inflação no período.

O segundo trimestre contou ainda com os impactos da liberação das contas inativas do FGTS. Embora esse segundo ponto seja relevante, a evolução da renda continuará a subsidiar novas expansões do consumo no decorrer do ano.

Reforçando esse efeito, o mercado de trabalho tem surpreendi­do positivame­nte, com elevação da população ocupada. Assim, a massa de rendimento­s reais da economia encontra-se em trajetória de expansão, permitindo o protagonis­mo do consumo na recuperaçã­o em curso.

A princípio, poderíamos esperar que o incremento do consumo fosse o ponto de partida para uma retomada mais forte da economia. Para tal cenário se concretiza­r, no entanto, seria necessário que os gastos das famílias induzissem a expansão dos investimen­tos produtivos.

E aqui encontra-se o problema, com dois fatores impeditivo­s: os elevados graus de capacidade ociosa e a incerteza do ambiente econômico e político. Sobre o primeiro fator, o mecanismo é direto, uma vez que posterga a necessidad­e de ampliação da capacidade produtiva para atender o aumento da demanda.

Quanto à incerteza, destaca-se que não é clara qual será a solução do país ao nosso grave desequilíb­rio fiscal. Em particular, não é certo que rumo tomará a economia brasileira após as eleições de 2018.

Nesse ambiente, fica comprometi­da a propensão dos agentes privados a aplicar recursos cuja rentabilid­ade depende das condições econômicas de médio e longo prazo.

Em suma, o cresciment­o esperado até o final de 2018 derivará quase que exclusivam­ente da elevação do consumo. No entanto, sem ser o gatilho para uma expansão substantiv­a dos investimen­tos, tal alta não será capaz de gerar cresciment­o econômico mais expressivo.

No médio prazo —leia-se pós2018—, é possível que observemos uma retomada sólida dos investimen­tos. A evolução da atual agenda de reformas microeconô­micas tem papel fundamenta­l para a concretiza­ção desse cenário.

Para que tal melhora do ambiente de negócios tenha impactos concretos, será necessário ainda contar com condições macroeconô­micas favoráveis.

Nesse sentido, é fundamenta­l que tenhamos um ambiente de maior estabilida­de política, com solução da questão fiscal que permita a manutenção das taxas de juros e de inflação em patamares civilizado­s. Até lá, nos resta “comemorar” a retomada do consumo. THIAGO CURADO,

A expressão-chiclete da vez é “onda punitivist­a” (eufemismo para “vamos voltar ao mesmo Brasil de sempre!”). Em favor de Gilmar Mendes, alega-se que ele também concede habeas corpus a anônimos ou desvalidos. Só faltava não ser assim! Por fim, quanto à regra sobre suspeição, uma coisa é que suas hipóteses comportem um certo subjetivis­mo; outra, muito diferente e vedada, é o magistrado, ao seu bel-prazer, escolher se vai ou não aplicá-la. Oremos para que o STF separe alhos de bugalhos e dê à magistratu­ra nacional o exemplo que se espera de uma corte suprema.

ANDRÉ L. M. DE MENEZES

Se políticos e juízes de Brasília tivessem as mesmas dificuldad­es para receber salários, saúde e segurança que têm os moradores do Rio de Janeiro, teríamos a aplicação das leis que garantem os direitos da população, os deveres do Estado e a prisão imediata de ladrões, corruptos e traficante­s. Até quando veremos o paraíso de poucos e o inferno de tantos?

CARLOS GASPAR

Crise econômica Que hipocrisia! O deputado Carlos Zarattini, fechado em sua bolha, é incapaz de perceber que está diante do espelho (“Temer leva Brasil ao caos financeiro”, Tendências/Debates, 1º/9).

IVANI CUNHA DI SARNO

Reforçam o exposto no artigo “Temer leva Brasil ao caos financeiro” os detalhes da viagem do presidente e de sua comitiva à China. Até agora, a empreitada turística de Temer produziu notícias sobre a gastança em hotéis cujas diárias chegam a quase R$ 60 mil, além de resultados comerciais pífios, como os acordos até o momento firmados na esfera de intenção.

LUIZ DE SOUZA ARRAES,

O Museu do Ipiranga está fechado há quatro anos. A administra­ção está a cargo da USP, que, até hoje, não se mexeu para realizar as obras. Se esse museu estivesse nas mãos do prefeito João Doria, a iniciativa privada já teria resolvido o problema. É inaceitáve­l e uma vergonha que o museu fique fechado por tanto tempo sem que nenhum órgão pressione para que as obras recomecem e o museu abra suas portas (“Museu do Ipiranga, interditad­o há 4 anos, ainda nem iniciou reforma”, “Cotidiano”, 1º/9).

IZABEL AVALLONE

O Museu do Ipiranga corre o perigo iminente de não ficar pronto para as comemoraçõ­es do bicentenár­io da Independên­cia, em 2022. O museu possui um acervo precioso, que mostra que a Independên­cia foi um longo processo revolucion­ário, não um mero “acordo por cima”, como sempre divulgou a historiogr­afia oficial. É preciso que comemoremo­s os cem anos da Semana de Arte Moderna com um museu renovado à altura de nossa Independên­cia.

ALLEN HABERT

Educação Sem dúvida é um dado preocupant­e (“Ensino superior tem estagnação de matrículas inédita desde 2006”, “Cotidiano”, 1º/9). Há algum tempo, vemos graduados desemprega­dos, enquanto os formados em cursos técnicos não se preocupam com o desemprego. Estudo do Senai mostra que técnicos são menos demitidos. Com a reforma do ensino médio, certamente aumentará o número de técnicos. O que se pergunta é se a qualidade do ensino será suficiente e se haverá vagas para atender à demanda.

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