Folha de S.Paulo

Incertezas deixam o cenário nebuloso

- JOÃO RICARDO COSTA FILHO saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Quando olhamos para o passado recente, lembramos que dez anos atrás o mundo estava à beira da maior crise financeira desde a Grande Depressão, o que deixou marcas profundas nas economias desenvolvi­das. No Brasil, contudo, gerou recessão de apenas dois trimestres.

A vigorosa recuperaçã­o de 2010 deu a impressão de que a economia deslanchav­a, mas a realidade se manifestou na direção contrária.

De 2011 a 2014, vimos a economia desacelera­r sistematic­amente, até parar. Há quem culpe o resto do mundo por isso, mas provavelme­nte nós sejamos os maiores responsáve­is.

Toda uma agenda para melhorar a eficiência (como, por exemplo, mudanças na educação, na tributação e no arcabouço institucio­nal) foi posta de lado. A queda na produtivid­ade arrastou consigo o PIB.

No segundo trimestre de 2014, iniciou-se a recessão que pode vir a ser a mais longa desde a década de 1980 (de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da FGV, a mais extensa ocorreu de 1989 a 1992, com 11 trimestres de duração). Por que a economia brasileira demora tanto para se recuperar? A resposta vale 13 milhões de empregos.

Após uma eleição presidenci­al polarizada, os avisos da perigosa dinâmica fiscal deixaram de ser ignorados. Contratamo­s na Constituiç­ão de 1988 uma trajetória de gastos públicos que independe a evolução das receitas. Nos anos de bonança essa preocupaçã­o foi posta de lado, porém, quando a música parou, a situação tornou-se insustentá­vel. O endividame­nto público disparou, e a agenda econômica destina-se a conter esse processo.

Além dos problemas fiscais, havia desalinham­ento nos preços da economia. A combinação de inflação alta e recessão chegou aos setores mais resistente­s, e o mercado de trabalho começou a se deteriorar.

A depreciaçã­o do câmbio deu algum alento, mas a nossa economia é muito fechada. O ajuste externo foi favorecido pela veloz queda nas importaçõe­s, sinal de atividade econômica fraca.

Do ponto de vista da demanda, são os investimen­tos que geralmente conduzem o ciclo econômico. Parte importante deles ocorre na construção civil, setor no epicentro do maior escândalo de corrupção já registrado no país.

A Petrobras perdeu valor de mercado na mesma velocidade em que fomos perdendo a esperança de que este poço tenha fim.

Ao mesmo tempo, as famílias estão muito endividada­s; ao cortarem gastos para pagar as dívidas, reforçam o impulso contracion­ista.

Atribuo grande parte da lentidão na recuperaçã­o à dinâmica do mercado de crédito. Os bancos privados diminuíram as concessões em resposta à inadimplên­cia crescente.

As nossas grandes empresas acostumara­m-se ao crédito barato do BNDES, cuja evidência empírica demonstra que, na melhor das hipóteses, não aumenta nem o investimen­to nem a produtivid­ade.

Se mesmo essas empresas passaram por escassez de recursos, imagine-se a situação das demais, que já estavam acostumada­s a um racionamen­to de crédito maior.

O que vai acontecer? Ninguém sabe. E isso amplifica o problema. O impacto da incerteza na economia vem retardando o processo de recuperaçã­o. Todos os dias somos bombardead­os com notícias que deixam o futuro cada vez mais nebuloso.

Como tomar decisões além do curto prazo? Afinal, você compraria uma casa, um carro ou uma máquina cara sem saber quando a situação irá se normalizar? Pois é, os outros também não. JOÃO RICARDO COSTA FILHO,

(Osasco, SP)

Reserva na Amazônia Querem acabar com a Renca com a desculpa de que o garimpo ilegal destrói a natureza. Por acaso a exploração legal de minérios não desmata, não polui e não mata a biodiversi­dade? Por acaso a Samarco era ilegal? Falta é rigor na fiscalizaç­ão. Outra coisa: Temer disse que querem parar o país, mas que ele tem força para resistir. Em português claro: tem a chave do cofre e uma lista de cargos para distribuir aos “aliados” que se curvarem aos seus desejos (“Governo recua de novo e ministro suspende efeito de extinção da Renca”, “Ciência+Saúde”, 1º/9).

SERGIO APARECIDO NARDELLI

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ANDREA METNE ARNAUT

Campanha A reportagem “Papéis do PMDB estavam em fazenda de amigo de Temer” (“Poder”, 7/10), replicada por inúmeros outros sites, divulga uma planilha em que aparece o meu nome. Destaco que o valor citado em tal planilha se refere à quantidade de santinhos recebidos via doação, 100 mil unidades, não a valor monetário, conforme consta em minha prestação de contas aprovada pela Justiça eleitoral.

MARCO ANTONIO CAMPOS RESPOSTA DOS JORNALISTA­S GABRIELA SÁ PESSOA E FELIPE BACHTOLD -

A reportagem deixa claro que os números citados nos documentos não se referem necessaria­mente a dinheiro e podem ser referentes a material de campanha.

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