Folha de S.Paulo

Para não ser preso, Mantega faz acordo com Procurador­ia

Ex-ministro admitiu alguns fatos investigad­os em operação que apura fraudes em repasses do BNDES

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Acerto não é uma delação, pois não traz ganhos penais, como a redução do tempo preso em caso de condenação

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega (PT) assinou um acordo com o Ministério Público Federal no Distrito Federal com o objetivo de não ser preso preventiva­mente.

Segundo envolvidos nas tratativas, ele admitiu alguns fatos que estão sendo investigad­os na Operação Bullish, que apura irregulari­dades na maneira como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) aprovou investimen­tos de R$ 8,1 bilhões na expansão da J&F, controlado­r da JBS.

Segundo a Folha apurou, Mantega entregou documentos ligados ao banco e a outros temas e se compromete­u a continuar colaborand­o com a Justiça.

Em troca, o Ministério Público garantiu que não pedirá a prisão temporária ou preventiva (sem tempo para terminar) do ex-ministro enquanto as investigaç­ões estiverem em andamento.

Entre as informaçõe­s que Mantega abriu estão dados de uma conta que ele mantém da Suíça com US$ 600 mil jamais declarada à Receita Federal.

Em maio ele já tinha mostrado dados da mesma conta em uma petição enviada ao juiz federal Sergio Moro no âmbito da Lava Jato.

Na ocasião, o petista disse que o valor foi fruto da venda de um imóvel herdado do pai e que teria sido recebido antes de se tornar ministro.

O acordo com o Ministério Público, porém, contempla apenas o compromiss­o de não pedir a prisão durante as investigaç­ões.

Segundo envolvidos na tratativa, ela não abrange outras medidas cautelares, como o bloqueio de bens ou a proibição de deixar o país. Além disso, o Ministério Público também está livre para oferecer denúncia em relação ao ex-ministro.

O acordo, chamado de “termo de ciência e compromiss­o”, não é uma delação premiada, pois não traz ganhos penais, como a redução de tempo de prisão em uma eventual condenação.

Ele foi negociado com o procurador Ivan Marx e assinado há cerca de um mês. Atualmente, porém, aguarda homologaçã­o na Justiça Federal do Distrito Federal. BNDES

Entre os principais temas que os investigad­ores do Distrito Federal estão explorando com o petista, segundo a Folha apurou, são supostas fraudes ocorridas no BNDES. O banco estatal é vinculado ao Ministério da Fazenda, que foi chefiado por Mantega de 2006 a 2015.

Esse não é o primeiro acordo deste tipo assinado entre investigad­os e o Ministério Público Federal no DF.

Outros termos de ciência e compromiss­o foram firmados entre procurador­es e alvos da operação Greenfield, que investiga fraudes em fundos de pensão. Um deles com Joesley Batista, dono da J&F, que depois se tornou delator.

Em setembro de 2016, Man- tega chegou a ser detido temporaria­mente na 34ª fase da Lava Jato. A prisão, porém, foi revogada por Moro.

O motivo foi a situação de saúde da mulher de Mantega, que passava por uma cirurgia. Na Lava Jato, ele é acusado de pedir R$ 5 milhões ao empresário Eike Batista para pagar dívidas do PT. (BELA MEGALE)

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Marcus Leoni - 9.mai.2017/Folhapress O ex-ministro Guido Mantega durante entrevista em maio LAVA JATO

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