Folha de S.Paulo

Consumo dá impulso a recuperaçã­o do PIB

Alta de 0,2% no segundo trimestre reforça sinais de retomada da economia após mais de dois anos de recessão

- MARIANA CARNEIRO LUCAS VETTORAZZO

Queda da inflação e do desemprego alimenta reação, mas falta de investimen­tos indica fôlego de curto prazo

O consumo voltou a crescer após mais de dois anos de retração, levando o PIB (Produto Interno Bruto) a uma alta de 0,2% no segundo trimestre deste ano. O resultado reforça sinais de que a economia brasileira começa a se recuperar da recessão, puxada pelos gastos das famílias.

A queda da inflação e das taxas de juros, além da interrupçã­o das demissões, ajudou a criar um ambiente positivo, apesar de o desemprego continuar em nível elevado.

O efeito prático é o aumento da renda de consumidor­es, amplificad­o pelos R$ 44 bilhões liberados de contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Segundo os dados divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo IBGE, o consumo aumentou 1,4% no segundo trimestre, em relação aos primeiros três meses do ano. Foi o primeiro sinal positivo desde o fim de 2014, o ano em que a recessão começou.

Segundo o Bradesco, o dinheiro do FGTS foi responsáve­l por dois terços da alta do consumo. O benefício teve caráter temporário, mas outros fatores poderão puxar o consumo nos próximos meses.

Para José Marcio Camargo, sócio da Opus Investimen­tos, as famílias se beneficiar­ão de condições melhores no crédito e no mercado de trabalho.

“O desemprego começou a cair antes do previsto. Isso deverá melhorar ainda mais a confiança e gerará mais consumo”, afirma o economista.

O bom resultado das vendas de automóveis em julho e agosto indicou que o dinamismo do consumo continua.

Marcelo Caparoz, analista da RC Consultore­s, credita esse efeito ainda aos saques do FGTS e aponta riscos como a precarieda­de das novas vagas de emprego criadas nos últimos meses. Assim, as compras que dependem de crédito poderão arrefecer, diz ele.

No longo prazo, um fator de preocupaçã­o são os investimen­tos, em contração desde 2013. A taxa de investimen­to da economia está em 15,5%, a mais baixa desde 1996, início

Variação trimestral em relação ao trimestre imediatame­nte anterior, em %

da atual série do IBGE. O risco é o consumo ser limitado à frente, reduzindo o potencial de cresciment­o da economia.

Há muita ociosidade nas fábricas e os investimen­tos em obras seguem deprimidos, por causa dos efeitos da Operação Lava Jato e do corte de investimen­tos públicos.

As concessões e privatizaç­ões prometidas pelo governo têm potencial para reanimar o setor privado, mas ainda sobram incertezas na política, que se estenderão em 2018.

Mesmo assim, as expectativ­as de que o PIB fique perto de zero neste ano ficaram para trás, e os economista­s começaram a rever suas previsões. Para Sérgio Vale, da MB Consultore­s, a economia pode crescer 0,7% neste ano e estará rodando a um ritmo de 3% às vésperas da eleição.

Zeina Latif, da XP Investimen­tos, acha que nesse cenário candidatos com uma agenda de reformas econômicas terão boas chances. “Candidatos populistas não serão competitiv­os depois das consequênc­ias geradas pela negação dos problemas econômicos da eleição de 2014”, diz. FLAVIA LIMA,

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