Folha de S.Paulo

Investimen­to fraco limita fôlego da retomada

Para economista­s, empresas não devem acelerar gastos de forma expressiva antes de cenário eleitoral de 2018 mais claro

- ÉRICA FRAGA

O resultado do PIB do segundo trimestre indica que o Brasil deixou a recessão para trás, mas permanece a uma longa distância do cresciment­o sustentado.

Os motores do fim do ciclo de contração da atividade ao longo do primeiro semestre foram o setor agrícola —que teve forte cresciment­o no início do ano e se manteve firme— e, mais recentemen­te, o consumo das famílias, que deu impulso ao comércio.

A principal barreira à passagem desse estágio para um retorno à expansão mais dinâmica da economia é a continuaçã­o da queda dos gastos de empresas com ampliação de fábricas, abertura de novas unidades e compra de máquinas e equipament­os.

Ao recuar 0,7% no segundo trimestre, o investimen­to voltou para o patamar visto entre abril e junho de 2009, segundo o Goldman Sachs.

Como proporção do PIB, o investimen­to —que aumentava em ritmo lento mesmo na época da expansão mais forte da economia brasileira— despencou nos últimos anos de recessão, chegando a 15,5% no segundo trimestre.

A taxa atual do Brasil só perde para os indicadore­s de 23 países entre um total de 135 nações para as quais o FMI tem dados referentes a 2016.

Segundo economista­s, embora o cenário revelado pelos dados do PIB do segundo trimestre seja mais animador, o desempenho fraco do investimen­to ainda limita o fôlego da retomada.

“Diminuiu muito o risco de a economia voltar a mergulhar na recessão”, diz David Beker, do Bank of America Merrill Lynch. “Mas, sem uma recuperaçã­o do investimen­to, permanecem dúvidas sobre a intensidad­e da recuperaçã­o”, completa o economista.

Segundo Beker, o investimen­to normalment­e já deveria ter reagido ao atual ciclo de queda de juros. A taxa Selic recuou de 14,25% em agosto de 2016 para 9,25% em julho deste ano.

Mas uma série de fatores tem impedido uma reação mais rápida.

Um deles é a incerteza em relação ao cenário político. Outro é a falta de crédito novo para as empresas, que ainda tentam equacionar as dívidas contraídas no passado.

Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullet Prebon, ressalta que o nível muito alto de capacidade não utilizada pelas empresas também limita o investimen­to.

Máquinas e equipament­os ociosos significam que é possível aumentar a oferta de bens sem investir em nova capacidade produtiva.

Mas o economista da Tullet Prebon afirma que, com a melhora da confiança, alguns setores tendem a voltar a investir nos próximos meses.

Igor Velecico, economista do Bradesco, concorda. “Há setores com mais ociosidade e outros com menos. Os que têm menos devem reagir à recuperaçã­o do consumo”, diz.

Segundo ele, as empresas têm percebido que, embora a alta do consumo no segundo trimestre tenha sido impulsiona­da pela liberação do FGTS, ela tem prosseguid­o.

Os especialis­tas creditam essa continuaçã­o à melhora no mercado de trabalho e nas concessões de crédito a pessoas físicas.

A expectativ­a é que o investimen­to reaja a esses sinais.

Mas, dificilmen­te, segundo economista­s, o ímpeto necessário a uma retomada mais forte da economia ocorrerá até que o cenário político para 2019 esteja definido.

O risco, segundo eles, é que, em um ambiente sem a continuaçã­o de reformas para conter a explosão dos dados do governo e da dívida pública, o investimen­to continue patinando.

Nesse contexto, a modernizaç­ão da economia permanecer­ia limitada, o que limitaria o cresciment­o da produtivid­ade da economia e, com isso, a capacidade de cresciment­o do país.

Uma consequênc­ia desse eventual cenário negativo seria a volta de pressões inflacioná­rias, já que as companhias não aumentaria­m a sua oferta para atender a maior demanda das famílias por bens e serviços.

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Edson Silva - 5.ago.2011/Folhapress Operário em fábrica em SP; investimen­to tem nova queda

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